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E depois das eleições ganhas revelaram-se as promessas recondicionadas?

(Conclusão da primeira parte disponível aqui).

Ganhas as eleições a referência ao corte de €1.500 milhões permanece e chega ao programa de governo e ao seu debate. Os jornalistas fazem as contas, procuram confirmações – protegendo as fontes – e ficam convencidos, no decurso do seu trabalho, de que o corte é mais a acrescentar ao que já estava em vigor. Fazem-se manchetes, artigos e nada é negado ou corrigido durante  dois dias.

Entretanto, prossegue o debate no Parlamento e o primeiro-ministro é diretamente confrontado por um deputado da IL – provavelmente mais cínico que os restantes – com uma pergunta direta e… Nem aí há clarificação. Em nenhum momento, ao longo do ano de 2024, nem antes das eleições, nem antes de ver o programa de governo aprovado, o líder do PSD sentiu ser oportuno anunciar que tinha entrado no mercado do recondicionamento de promessas. Mas a sua promessa era, na realidade, recondicionada e encavalitada em cima de outra já em concretização que valia quase 8 vezes a que estava a prometer.

Só com o programa de governo votado e aprovado no Parlamento, e na televisão, é que o novo Ministro das Finanças, Miranda Sarmento, veio esclarecer que a promessa prefaz um total de talvez um pouco mais de €173 milhões, “porque as contas ainda se estão a afinar”.

Perante as queixas de publicidade eleitoral enganosa, o “vendedor” refugiou-se nas letras pequeninas, acusando o país de ter vivido uma alucinação coletiva.

No que pareceu ser uma campanha de minimização de danos, rapidamente o governo, os  seus deputados e o comentador isento, Marques Mendes, distribuem narrativas.  Uns advogando que o governo não tem que corrigir erros de análise alheios, outros, reconhecendo algum grau de erro do governo mas procurando responsabilizar o Partido Socialista, em particular, por não se ter apercebido a tempo que… a AD e depois o governo estavam a praticar deliberadamente um ato de publicidade enganosa, procurando – e conseguindo – ludibriar eleitores, opositores e jornalistas.

Uma bela lição para o futuro e uma tristeza de enquadramento para a legislatura que apenas começou. E logo uma onde é suposto ter de haver o maior esforço de diagolo construtivo de sempre por parte de um governo com o Parlamento, para este poder singrar, como bem lembrou, aquando da tomada de posse do governo, o atual Presidente da República.

Das promessas recondicionadas a algo mais sinistro

E tudo isto sucede numa conjuntura onde há poderosas forças populistas, ávidas por capitalizar em cima de comportamentos menos claros, habilidosos e pouco sinceros de políticos incumbentes…

Em suma, e para sermos rigoros, não estamos perante uma promessa recondicionada. Até pela tentativa algo desesperada e de eficácia muito duvidosa das réplicas do governo e seu apoiantes a toda a esta situação, perece evidente que se está a tentar encobrir ou desvalorizar algo bem mais grave, um caso de apropriação de conquistas governativas alheias, alimentando uma perceção errada que pode ter tido impacto real no resultado eleitoral, em especial quando as eleições terminaram com resultados historicamente renhidos.

Dito isto, as eleições já lá vão e aqui não há VAR, pelo menos, no imediato. Mas há uma certeza: este governo começa a função, enredando-se num caso de política, num crime de descredibilização e alheamento face às expectativas eleitorais onde as forças da autoridade se confundem saudavelmente com os juízes: os eleitores.

E esses vão ter de estar atentos e ativos se quiserem instruir os seus representantes sobre que tipo de política merece ser patrocinada e que tipo de política tem de ser erradicada. Até porque, já dia 9 de junho, vão voltar a ser chamados a votar, nas Eleições Europeias. Que sinal irão dar ao novíssimo mercado do recondicionamento e reapropriação de promessas eleitorais alheias?

E pensava eu aqui há dias que isto tinha começado mal… “Seria possível pior início de governação?“.

 

Em breve haverá informação sobre como votar antecipadamente e em mobilidade.

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