O Estado Novo ofereceu a escolaridade obrigatória para todos até ao quarto ano de escolaridade. Os meus avós não sabiam ler nem escrever mas os meus país foram obrigados a ir à escola durante quatro anos. Aprenderam a ler a escrever, aprenderam a respeitar o regime e a respeitar o trabalho e a dignidade na pobreza. Viver uma vida de trabalho braçal, na probreza era uma virtude pessoal, um designio de uma vida inteira, elogiado e incentivado pelo Estado. A política não devia preocupar os trabalhadores que mereciam ser aliviados das dificuldades da governação e das opções de organização social, entregues a uma elite urbana e a uma pequena elite satélite de nível local, quase feudal.
As crianças podiam estudar mais apenas se a família tivesse condições para suportar a despesa pois a partir do 5º ano tinham de ser as famílias a pagar. E o pagamento tipicamente incluia a propina mas também o transporte que no interior ainda podia representar uma longa e onerosa viagem diária. Os liceus eram raros e espaçados.
Para famílias pobres esta despesa era inatingível. Ter o filho no seminário católico para começar o caminho para padre era muitas vezes a única opção e não chegava para todos, longe disso.
Em algumas famílias, que se conseguiam posicionar um pouco acima do nível de subsistência e especialmente se fossem frugais nos costumes e nas despesas, era possível financiar os estudos de um dos filhos ou filhas. Mas raramente podiam ir todos para o liceu e muito menos para a Universidade. A asceção social era quase impossível por via da educação.
E se vivessem no interior os empregos seriam raros e dificilmente acessíveis. Muitos ficaram pelo estudo básico e rumaram às cidades à procura de trabalho em fábricas, serviços ou no aparelho do Estado. A guerra, por exemplo, oferecia emprego para muito jovens, desde o início dos anos 60. Muitos mais sairam do país, uns fugindo à guerra, a maioria fugindo a um destino de miséria honrada. Naturalmente, sem estudos, sem conhecimento de línguas estrangeiras, a fuga do país esteve muitas vezes associada a uma emigração esforçada, cheia de dificuldades, onde os portugueses tinham de se contentar com os empregos que os naturais do país de acolhimento já não queriam ocupar. Muitos era explorados por redes de emigração ilegal e viam-se em posições de enorme fragilidade nos países de acolhimento. A emigração não tinha nada de glamoroso e a melhoria das condições de vida fez-se à custa de muito sangue, suor e lágrimas. Ainda assim, a emigração oferecia um prémio mais atrativo do que aquele com que se podia sonhar com uma permanência de uma vida inteira em Portugal.
Tudo isto nos foi oferecido pelo Estado Novo. Será que estamos melhor?