Há uma semana a proposta do OE2013 previa que o subsídio de desemprego iria descer 6% (para um mínimo de €394) agora, volvida uma semana, o governo avança com uma proposta de corte sobre o valor mínimo do subsídio da ordem dos 10%. O que irá propor amanhã? E daqui a uma semana?
Como acreditar que há um rumo, um plano, um futuro com a política atual, seja pelos constrangimentos externos, seja pelo desatino político interno?
Que garantias temos que os sacrifícios de hoje não culminarão, a prazo, na inevitabilidade do destino que, para já, quase todos querem evitar, que é a saída do euro?
A sensação que tenho, pela irredutibilidade e insustentabilidade do plano de salvação é que estamos a adiar o inevitável acrescentando sacrifício à provação final que não conseguiremos evitar. Se assim for, estamos a perder tempo, energia vital (com a emigração a passar além do que seria razoável) e a cavar um buraco cada vez maior a somar à desonra de virmos a ter de pagar apenas parte e/ou a más horas. Apenas.
O tempo de falar claro e de decidir não pode ser daqui a um ano ou quando der jeito ao calendário eleitoral de algum soberano estrangeiro que há muito deixou de respeitar os princípios basilares que vinham enformando a construção europeia. Dos nossos parceiros pouco mais temos que uma sucessão de cimeiras, promessas vãs de evolução, adiamentos sucessivos e desmentidos em catadupa sempre que algo que se desvie do cânone comece a ganhar momento.
O que fazer então? É tempo de clarificar exatamente o que nos pedem e aquilo que estamos dispostos a fazer. Será preciso referendar a manutenção no euro para que se fale claro e se analisem, confirmem ou desmintam os pavores que se agitam?
É fundamental definir coletivamente qual o limiar a partir do qual considerar outro rumo deverá passar a ser a opção a seguir, ponderando conscientemente os prós e os contras, no curto, médio e longo prazo. É tempo de retomarmos, na medida do possível, o nosso destino nas nossas mãos.
Não tenho ilusões: um povo que não se dá ao respeito, nem acarinha ou é autorizado a acarinhar um justo equilíbrio entre o destino imediato e a subsistência sustentável da sociedade e economia que o compõem, nunca poderá dar um contributo válido para qualquer projeto europeu.
A partir de quando é que prosseguir por um caminho em que ninguém acredita pode passar a ser reconhecido como pura estupidez autorizando o regresso a um mínimo da racionalidade e dignidade?