Little ChildrenSeremos verdadeiramente livres quando o desfecho do filme está condenado a ser catalogado de paz retrógrada, caro João Paulo Sousa? Passo a tentar explicar.

O João teria razão se ficasse evidente que a decisão das personagens em abandonarem o idílico e ultra-banalizado sonho de fugir dos compromissos para procurar o 'amor numa cabana' tivesse resultado dos retrógrados (eu diria antes míopes) valores que lhes eram impostos pela sociedade.

O que vi foi outro móbil que invalida esse ferrete. O que quero dizer é que não querer (continuar a) viver um grande amor pode resultar de se querer viver outro (evidentemente não carnal, em ambos os casos, para ambas as personagens), não tendo essa solução de resultar de um processo de anulamento do indivíduo. Ora este desfecho, além de pouco popular entre os meios mais liberais (de que eu julgo fazer parte), merece amiúde ser rapidamente colocado junto das histórias passadas em que o "mesmo fim" resultava de inverosímeis papagaiadas, propagandeando a moral e bons costumes caros ao censor de serviço. Não foi isso que senti ao ver este filme. Aliás, a incerteza, cujos resultados podem ser duvidosos, como o João Paulo Sousa bem sublinha, foi a constante do enredo (que confesso me agradou).

Sublinho: há naturalmente vários caminhos que levam ao mesmo desfecho e o desfecho deste filme – ficou-me "no palato" – poderia facilmente ser outro, daí talvez não lhe encontrar um cunho moralista que me incomodasse. Paz retrógada? Apetece-me dizer que já vai sendo tempo de ser encarada como uma qualquer outra opção de vida, tão legítima para uma sociedade progressista quanto qualquer outra, desde que tomada em liberdade, sem estigmas de maior.

Nota: Little Children (Pecados Íntimos) é o filme em questão. 

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