Bons olhos o leiam caro sub. 🙂
De caminho, agradece-se e felicita-se o “bochechas” com as palavras de Francisco Sarsfield Cabral no DN.
(Mas poderia citar o Jaquinzinhos, também; ou o Portugal dos Pequeninos)
“Tentar perceber
Mário Soares
Em 1986 participei na campanha eleitoral de Freitas do Amaral para a presidência da República. Em tempo de antena na RTP tive, então, uma intervenção muito crítica de Mário Soares, que viria a ser eleito Presidente. Poucas semanas após M. Soares ter tomado posse, cruzei-me casualmente com ele à entrada de uma exposição nos Jerónimos (a célebre «XVII»). Esperei um cumprimento frio, senão hostil. Nada disso: para minha surpresa, Soares foi muito cordial para com o seu recente crítico.
Esse fair-play de quem conhece bem o jogo da política é uma das virtudes de M. Soares, que hoje festeja 80 anos. Mas tem outras qualidades – e mais importantes para Portugal. Não é por acaso que desde há dias ele é alvo de um coro de elogios, algo que, entre nós, é costume apenas quando as pessoas morrem. Por muito que se discorde ou tenha discordado de M. Soares (e eu não discordei só em 1986), é inegável que o país tem para com ele uma enorme dívida de gratidão.
Soares nunca se enganou no essencial – no empenhamento na liberdade e na democracia representativa (antes e depois do 25 de Abril) e na aposta europeia (contrariando os economistas que em 1977 o aconselhavam a adiar o pedido de adesão à CEE). E sempre defendeu os valores em que acredita com notável coragem, até física. Nisso não é um português típico, como também não é comum, num país de melancólicos, o seu exuberante gosto pela vida. Aos 80 anos, Mário Soares não se alimenta do seu imenso capital acumulado no passado: está virado para o futuro. Por isso se interessa pelos grandes problemas do século XXI. E, como já tive ocasião de testemunhar, tanto se entusiasma num debate com grandes personalidades mundiais, como num modesto colóquio com portugueses anónimos. O que o atrai são as causas. Parabéns! “