Sim, talvez eu me possa indignar um bocadinho com a revista do orçamento que o governo pagou para sair hoje com alguns jornais. E a indignação virá muito mais da conjuntura política actual – a dois meses de eleições, com o governo em gestão, ter esta originalidade – do que do facto em si de se promover o orçamento na imprensa escrita.
Imagino que um governo possa recorrer aos media para sintetizar a lei do orçamento, nada de muito chocante desde que os custos da operação sejam conhecidos e o conteúdo não se fique pelo folheto propagandístico. Ainda assim preferia um maior investimento na melhoria da acessibilidade dos cidadãos a meios que lhes permitissem o acesso directo à lei.
O que me interessaria perguntar era se a dita revista trará valor acrescentado face ao que os jornais já decifraram? É um risco que o governo corre: fazer papel ridículo e apresentar mais uma prova de desperdício das parcas verbas públicas.
Não sei é se o PS que conta com Edite Estrela entre os seus executivos de topo terá os telhados bem protegidos para vir falar de cátedra.
Mas quem é que ainda se lembra do que se passou em Sintra nas últimas eleições autárquicas com uma célebre revista da Câmara Municipal onde figuravam imagens de campanha da então presidente (ver aqui e aqui)? Até houve sub-sequente condenação em tribunal…
É por estas e por outras que há muito tempo por aqui defendo que há matérias e percursos políticos que devem, no mínimo, ser sujeitos a quarentena sob pena de se transformarem em exemplos que destroem a tão preciosa integridade de quem quer ser crítico e apresentar-se como alternativa. Por isso não me venham agora acusar de deslealdade orgânica ou coisa que o valha, a mim também.
Fazer este sublinhado é fundamental para manter a minha integridade e um mínimo de coerência. Algo que eu gostaria ver ser tentado com mais afinco pelos nossos políticos.