Uma certa classe política em Portugal, talvez por se contemplar excessivamente ao espelho, continua a agir na aparente pressuposição de que os portugueses, rebanho fácil, aceitam tudo e são estruturalmente incapazes de um gesto colectivo de denúncia da estupidez e de revolta cívica.
Os deputados dos partidos da maioria conjuntural que nos vai desgovernando, aliados aos do principal partido da oposição, decidiram desafiar, com uma pergunta idiota para um referendo faz-de-conta, a inteligência dos portugueses.
Se, perante a ofensa, não nos indignarmos, a nossa cumplicidade pelo silêncio será seguramente interpretada como a definitiva confirmação de que, neste país, vale tudo e que os portugueses são, de facto, um povo que não merece mais do que um açaime e uma coleira.
Como me recuso a figurar na fotografia dos idiotas, apelo a todos os bloguistas e a todos os concidadãos que ainda não se deixaram sepultar em vida que, colectivamente, digam NÃO a quem persiste em querer tratar-nos, politicamente, abaixo de cão.
Apelo apenas, por isso, à indignação. Cada um saberá exprimi-la à sua maneira e da forma que entender mais adequada. Milhares de vozes a dizerem NÃO terão, seguramente, um impacto avassalador sobre a trafulhice referendária que nos espreita.
Esta não é uma causa de esquerda ou de direita. É uma causa da inteligência e do bom senso, os derradeiros atributos que nos restam.
A favor da Europa ou contra a Europa, mas jamais de cócoras.
Conto consigo para passar a palavra e o testemunho.
19 de Novembro de 2004
Ademar Santos, português por extenso