O insulto maior destes últimos dias não se faz ao presidente, faz-se a quem se deveria sentir representado.
Há uma realidade que, mais que não seja a história, se encarregará de consolidar:
com a interrupção do mandato para assumir funções de presidente da Comissão Europeia por parte do Primeiro Ministro em exercício, a crescentemente abalada crença nas capacidades da democracia representativa perdeu mais alguns adeptos. Objectivamente, houve quem votasse em Durão Barroso e também muito objectivamente hoje não aceita, não compreende, os motivos para a quebra do contrato. À minha conta conheço mais que um concidadão com esta posição e em sua defesa ele apresenta-me o que viu, ouviu e percebeu em campanha. Não preciso ouvir o Bloco de Esquerda para saber isso, não é preciso empacotar esta realidade com a embalagem de quem vende detergentes. É algo que se vê e ouve entre quem tem amigos que ainda acreditam. O carácter concreto e inegável deste sentimento que existe em alguns eleitores resiste à “partidarização”, à menorização que se tenta atribuir ao ditado na boca do “inimigo”.
Sim, continuo a achar que a melhor opção para nós, neste momento, é convocar eleições mas estou absolutamente enjoado com tanto empenho em manipular, em dramatizar, em “respeitar insultando” de que José Manuel Barroso foi o expoente máximo com a ida para a Comissão Europeia. Apenas o pragmatismo perante o facto consumado me permite dar-lhe os parabéns e desejar-lhe felicidades. (Que ganharia eu ou qualquer um de nós com o seu fracasso?)
Mas, embora os motivos do enjoo venham essencialmente da direita, também os encontro na “minha” esquerda. Antes fosse a paixão pela política, pelas tão mal baratadas “convicções”, o motivo dos exageros.
Tudo o que havia para ser dito já o foi, agora mastigamo-nos e mais uma vez ficamo-nos no acessório e a construir bons motivos para não votar, para não acreditar, para desdemocratizar. Todos somos empurrados pela gravidade.
Tantos e tantos políticos continuam a falar exclusivamente para os tolos que lhes povoam a imagem que têm do eleitorado, do povo português. Tantos que existem e se definem para essa “média”. E digo média, que não para o Centro, pois esses posicionamentos já pressupõe assumir um mínimo de pensamento estruturado no eleitor.
Assim caminhando, um destes dias já ninguém saberá perceber o que se passa, o que está errado e aí voltaremos a perder… Perderemos tudo no dia seguinte, sempre um dia tarde demais.
(acho que vou ali comprar mais beijinhos das caldas e já venho)