O Jaquinzinhos entra na discussão relativa ao dumping e faz uns comentários a um parágrafo que aqui se lê num post ali de baixo. Escrevi eu inventando um exemplo muito simplificado e simplificador:
“1º – peguemos em duas lojas vizinhas (para o efeito é irrelevante a dimensão ou o que vende, podem até ser prestadores de serviços). Uma vende os produtos com uma margem de 1% sobe o custo. A outra oferece os produtos a custo zero. Ao fim de dois meses a primeira fecha as portas porque não vendeu sequer uma caixa de fósforos e deixou de conseguir cumprir com os seus compromissos (pagamento da renda, consumíveis, etc).”
O JCD tenta perceber (a minha resposta segue em negrito):
Deixa ver se percebo… A que oferece os produtos à borla, aguenta-se e a que vende… fecha? Não faz muito sentido, pois não?
Porque é que não faz sentido? Só não fará sentido se admitires que os concorrentes partiram com os mesmo recursos. Dentro da lógica de maximização do lucro – que é a de ambos os comerciantes – se um deles se puder ver livre do outro em apenas dois meses fazendo uso da sua vantagem – capacidade financeira para sustentar o dumping pelo tempo suficiente até levar o outro à falência – fa-lo-á!
Eu esperava que fosse ao contrário… Até porque o dono da loja que não faz dumping pode adquirir TODOS os produtos ao lojista que os oferece.
Facilmente se contornaria essa possibilidade com uma muito usual (entre dumpistas) restrição do número de peças permitidas por consumidor. E mesmo que fosse lá abastecer-se, levava o stock mas não o conseguiria vender continuando incapaz de fazer face ao seus encargos por não gerar receitas, bastava para isso existir um dumpista suficientemente poderoso que podesse sempre pagar mais e mais stocks e sustentar os custos com a sua loja até o outro lojista se arruinar com o acumular de fornecimentos e serviços externos por pagar.
Mesmo que o logista borlista esteja a fazer um forte investimento no futuro, no dia em que ele aumentar as margens para valores de monopólio… a loja em frente abre outra vez. Com outro dono, talvez, que não investiu fortunas. Ganham sempre os consumidores, excepto quando aparecem governos a limitar o acesso ao mercado.
Entretanto tivemos uma situação de monopólio que poderá ou NÃO ter curta duração. Podemos ter perdido um avanço tecnológico por termos perdido um comerciante eventualmente mais inovador e mais capaz que não teve oportunidade de agir. E podemos até ficar perante um mercado marcado, ou seja, o histórico de práticas de dumping do nosso comerciante – uma estrategia bem sucedida ao levar à ruina o concorrente – poderá até, PASME-SE, desincentivar qualquer outro concorrente a dedicar-se àquele mercado. Até ouço o potencial empresário concorrente a pensar: “Será que aquele tipo ainda tem capacidade financeira para me levar também a mim à falência? Será que ganhou muito neste tempo em que consegguiu ser monopolista? Vale a pena correr o risco?” Na melhor das hipóteses o eventual novo concorrente associa-lhe um factor de risco muito superior àquele que teria se a prática de dumping tivesse sido identificada e pudesse ser impedida se devidamente comprovada junto do polícia do sector, o regulador.
Péssima ideia a do comerciante dumpista. Dumb.
Concordo consigo se acrescentar a essa sua última frase um “se houver recurso contra o dumping na figura de um regulador”