É difícil julgar de Portugal o que se está a passar em Espanha. Não sei até onde foi Aznar e o Partido Popular (PP) no seu discurso interno a quando da invasão no Iraque. Não sei até onde os Espanhóis conseguiram desmascarar as mentiras justificativas da guerra no Iraque, não sei até que ponto a revolta que está ainda hoje nas ruas resulta de um reavivar da revolta face a essa forma desonesta, mentirosa de tratar e governar o país. Suspeito que a indignação dos Espanhóis tenha sido profunda, recordo as expressivas manifestações contrárias à intervenção no Iraque que foram mobilizadas por todo o país.
Talvez o “atraso” na divulgação dos principais suspeitos do atentado, resulte de uma ironia sinistra, a de o PP recear que instintivamente a Espanha assustada lhe apontasse o dedo acusador, co-responsabilizador, numa atitude que é, fundamentalmente, cobarde e, apesar de tudo, injusta e perigosa pelos sinais que pode dar a futuros governantes.
Mas talvez não seja isso. Um povo que há décadas enfrenta a ameaça de terrorismo e que ao longo da sua história recente não hesitou nunca em levar às últimas consequências a medida das suas divergências internas, dificilmente votará sob o libelo da cobardia. Uma cobardia sibilina, apregoada por analistas como justificativa dos receios do PP espanhol.
Eles saberão que muito provavelmente o julgamento não lhes será tão favorável quanto esperavam há uma semana, mas talvez mais pela lembrança nítida do autoritarismo que os Espanhóis tentavam acomodar, do que por uma simples reacção de pânico colectivo.
Internamente, aqui entre nós, já escrevi ontem o que penso sobre a nuance entre a rejeição da guerra no Iraque e o apoio ao governo português neste momento. Volto à ideia de ontem recorrendo agora às palavras mais escorreitas do Lutz (o sublinhado é meu):
“Já ouvi quem cá ficaria mais aliviado, se o massacre fosse por conta da ETA. Porque se fosse um castigo que a Al Quaeda aplicou à Espanha, pelo apoio à guerra no Iraque, então nós em Portugal deveríamos ter medo, por causa da Cimeira das Lajes, e agora com o Euro 2004 a vista…
Fui contra a guerra no Iraque, mas não quero ter nada a ver com aqueles, cujo argumento era a “cautela” perante uma eventual retaliação!”
Adenda: Descubro também no Aviz o mesmo sentimento… e no País Relativo.