Para mim, Ahmed Yassin era o pior que poderíamos esperar do lado Palestiniano: um fanático líder religioso apoiante do genocídio do inimigo com quem era absolutamente impossível dialogar. Uma significativa parte do problema.
Durante anos e anos me espantei com a sua sobrevivência. Particularmente nos últimos tempos, desde a chegada de Sharon ao poder e perante os seus assassinatos cirúrgicos.
Porquê cercar Arafat correndo o risco de o matar “acidentalmente” com algum tiro mais certeiro ao edifício onde residia e ao mesmo tempo deixar solto o “venerável” senhor que mal podia falar mas a quem todos ouvíamos em directo nos telejornais os piores incitamentos à violência sem tréguas e sem contemplações?
Espantava-me. Espantava-me julgo que não por ingenuidade mas por sempre querer acreditar em algum tipo de lógica menos que perversa. Até no alvo do poder Israelita que renunciou a superioridades morais, esperava algum tipo de proporcionalidade, algo mais do que o mais frio e aterrador calculismo. Dava (dá) jeito ao actual poder em Israel fazer dos mais extremistas os seus únicos interlocutores. Arafat era e é ainda um adversário bem mais incómodo; também por isso sobreviveu até hoje. Ironias da política e das vontades dos povos!
Hoje dizem-me que por outro tipo de acerto (interno) e com outros objectivos imediatos em vista (leia-se a sugestão de colagem aos partidos haredim descrita no Aviz), Yassin foi morto.
É difícil pregar a defesa dos princípios quando morre alguém de quem tinha asco e a mais profunda repulsa – sempre considerei as suas palavras e percebi que quase todas me eram também dirigidas – mas por mais difícil que seja, é preciso dizer que o governo de Israel errou novamente e provavelmente perdeu mais uma batalha com mais esta morte violenta.
O extermínio de uma das partes não é admissível, estão condenados a ter de se entender e este, mesmo tratando-se de Yassin, não é o caminho nas terras da Palestina. Já há muito que o sabemos, todos.