Só duas ou três notas.
1. Mário Soares cumpriu e continuou a escrever o seu manual prático de como fazer política. O principal alerta, a abstenção, será sem dúvida determinante nas eleições que se avizinham (13 de Junho de 2004, para os mais distraídos, umas eleições nas quais nem Cavaco Silva, nem Santana Lopes serão candidatos). Espero, no entanto, que o mote de Mário Soares não sirva apenas para passarmos os próximos meses a ouvir políticos de todos os quadrantes a “alertar” para o mal da abstenção. Tenho cá para mim que esse discurso repetido até à exaustão (especialmente nos últimos dias de campanha) serve mais para desmobilizar do que qualquer outra omissão. Os votos conseguem-se pela positiva, pela capacidade de gerar interesse, motivação e não dando sucessivos raspanetes em maus alunos.
2. Ferro Rodrigues esteve bem na denúncia que lhe compete, sublinhou as principais críticas, incoerências e mentiras que o Governo e, particularmente, o primeiro ministro têm acarinhado nos últimos meses… Disse ainda que a lista do PS às Europeias deverá contribuir para garantir que neste ciclo haja maior sincronia entre o grupo parlamentar europeu, o grupo parlamentar nacional e a direcção do partido. Todos deverão estar em contacto permanente e cientes das prioridades mais relevante para a intervenção política. Trabalho de equipa, portanto. Ora as equipas dependem das pessoas e em boa parte dos líderes. Sousa Franco, a ser o próximo líder da lista do PS às europeias, é talvez o último dos políticos com actividade política recente no PS a dar garantias de conseguir trabalhar em equipa. Lealdade política, humildade, não são atributos que tenham transparecido para o público enquanto desempenhou funções executivas. Porque motivos foi remodelado, recordam-se? Resta saber quem serão os restantes membros. Estes, além de terem de assegurar o objectivo traçado pelo Secretário Geral, muito provavelmente terão de se dedicar à “limitação de avarias”.
3. Finalmente, no meio das críticas muito justas ao actual governo, denunciando “as medidas irrepetíveis” para controlar o défice, Ferro Rodrigues disse “nós somos pela consolidação orçamental”. Destaco apenas esta expressão deixada algures no meio do seu discurso para cobrar detalhes. Como já aqui disse, vindo de quem vem (um ex-ministro com largas responsabilidades no anterior governo socialista) estas frases não passam de pura demagogia se não forem sustentadas com as medidas que visarão o propósito apregoado. Ferro Rodrigues e todos os que tiveram responsabilidade directa no anterior governo, têm um handicap nesta matéria que só não lhe deverá tolher a intervenção política se assumido e tenazmente ultrapassado com garantia de aprendizagem perante os erros passados. E isto, por muito socialista que seja, nunca deixarei de lhe(s) cobrar.