Escreveu a Joana na caixa de comentários do texto anterior:
“(…)Aliás, a questão salarial nas empresas privadas resolve-se pelos mecanismos de mercados. Se os trabalhadores ganham acima da sua produtividade, as empresas deixam de ser competitivas, vão à falência e há o desemprego, a menos que invertam a tendência, normalmente com sacrifícios e algum desemprego à mistura. É simples. (…)”
Permita-me discordar pelo empirismo como aliás sugere logo no início da sua réplica.
Não são essas as empresas que temos Joana. Ou pelo menos tenho visto muitas onde essas regras teóricas bonitinhas são completamente ignoradas. Casos quase inacreditáveis de blindagem à mão invisível do mercado.
Consigo ver exemplos tão gritantes de ineficiência no privado quanto no público. Dou-lhe o exemplo mais chocante que conheço: uma multinacional. As multinacionais são em regra (já duvido…) um paradigma de boas práticas a vários níveis, desde a gestão de topo aos procedimentos de base de qualquer colaborador. Esta é uma das realidades que temos nas multinacionais.
A outra é aquela em que o centro de controlo está tão distante e distraído (e há tantos anos que está distraido, talvez por sermos um mercado quase irrelavante) que nenhum dos mecanismos de auto-regulação funciona. Temos a velhinha teoria da agência a funcionar…
Quem gere, gere o seu salário e não os interesses do capital. Basta isto para poder levar a empresa à ruína certo? Nem sempre! Pode-se ir mantendo o barco à tona com alguma inteligência mas sem necessidade de ter golpe de asa para rentabilizar o investimento.
De forma directa (via salários e prémios) ou de forma indirecta (compadrio na contratação de Fornecimentos e Serviços Externos às empresas dos amigos – ou dos próprios gestores! – por exemplo) o capitalista é expoliado pelo suposto gestor. Pelo caminho evita-se que o report levante muitas suspeitas dentro dos critérios de análise do grupo e a empresa vai-se aguentando passando pelos pingos da chuva… Há décadas!
No longo prazo talvez o mercado venha a funcionar, talvez alguém no distante lá fora se digne vir até cá e compreenda até onde vão as manigâncias criativas dos gestores que contratou, talvez. Mas aí sou absolutamente Keynesiano. No longo prazo…
Em suma: cada caso é um caso e não atribuo, sem uma adequada análise ao mercado concreto em discussão, sector a sector, nenhuma supremacia concreta da iniciativa privada face à inciativa pública (nem o reverso, já agora).
(continua)