Como nós somos mesmo todos estúpidos o agora ex-ministro acabou de dizer que se demite mas não se arrepende. Não fez nada errado. Não favoreceu nem prejudicou ninguém. Todas as situações como as da filha do ministro passariam a ter o mesmo tratamento. Logo a sua honra não sai beliscada.
Imaginem as potencialidades desta prática aplicada a outra áreas da vida civil…
Se ele tivesse assumido o erro claramente e não apenas implicitamente através da demissão, se tivesse aproveitado a ocasião para dar um exemplo (porque há lições a tirar quando erramos e um exemplo a dar) fariam sentido os discursos laudatórios que se adivinham (Guilherme Silva já deu o mote). Agora sem arrependimento não pode haver perdão e espera-se que, por exemplo, o Primeiro Ministro se distancie desta suis generis interpretação dos acontecimentos do seu agora ex-ministro Pedro Lynce.
Quanto ao outro senhor que consultou a família e alguns juristas antes de autorizar a filha a apresentar o requerimento ao ministério, demonstrou saber que o que pedia era extraordinário, excepcional, não previsto nos regulamentos correntes logo, um favor. Como não o pediu directamente num coffee breack do conselho de ministros não há problema diz ele.
Este foi um daqueles favores que nunca ninguém tinha pedido, ou se pediu não viu atendido, tanto quanto se sabe.
Não haverá por aí também razão para um humilde arrependimento? Para a assunção de um mau exemplo? Para um afastamento discreto para a penumbra da vergonha?
A que propósito um embaixador que é chamado a regressar a Portugal (podendo os seus filhos cair na perda do direito à quota) deverá ter menos direitos que um outro que livremente decidiu aceitar um cargo no governo?