«(…) Como quando no escuro do teatro tememos ser atravessados pelo olhar de um actor, isolados da multidão, revelados, puxados para o palco. (…)»
Fernanda Câncio in âComprar, vender, homem, mulherâ?, NotÃcias Magazine nº 269, 20 Julho 1997, p. 47.
Month: September 2003
Tenebroso é o estado de espírito de um Sportinguista nesta noite… Tomem lá disto (uma Proto-posta de há uns anos)
Caso Esquisito (quase) Verídico
Gaspar era um rapaz decidido: gostava de salada de pepinos, de pimentos assados e de beringelas fritas em cobertura de ovo enfarinhado em trigo. No bolso, raras vezes o apanhavam sem uma alfarroba meio trincada.
Gaspar era ainda pequenino.
O Gaspar está preso num sítio muito branco e muito negro; é mesmo um daqueles pardais-de-prisão.
Entrou pela primeira vez na cela com um «Estou frito!» no pensamento e, desde então, não deixou de pensar a uma velocidade alucinante, como nem sequer se sabia capaz.
A imagem dele e do seu pai fazendo de almas penadas nas noites estreladas de fim de Verão, prescutando as oliveiras à caça de pardais, ele com a laterna e o pai com a pressão de ar, tem-no perseguido em muitas noites mal dormidas no cárcere. «Pardais fritos, estaladiços, humm…Bem bom!» aventava ele aos colegas de escola em conversa de meninice, a armar em grande caçador e apreciador de iguarias exóticas.
Um dia…
O Crime de ignorar do Migalhas.
Citando…
Todos nós provavelmente já experimentámos a desagradável sensação de que podemos um dia morrer estupidamente. Seja num acidente automóvel que evitámos à última hora, numa pontada de dor no peito, nas imagens de um atentado terrorista. Nesses momentos, alguns de nós, pensámos que não era ainda a hora de morrer. Que tal antecipação era injusta. Faltam-nos ler tantos livros, procurar e atingir objectivos, fazer novos amigos, beijar futuros filhos. Sentimos a ténue linha imprevisível que nos sustenta entre o existir e o deixar de ser. Esse medo, receio, é saudável. Mantém-nos agarrados à vontade de ser, aprender, pensar, crescer, interrogar, afirmar, envelhecer, amar e viver.
Um recente estudo do Instituto Superior de Psicologia Aplicada revela que “Com base num questionário feito a 234 estudantes do ensino secundário da cidade de Lisboa, de ambos os sexos e com idades entre os 15 e os 21 anos, a investigação revela que 48,2 por cento das inquiridas já desejaram estar mortas, enquanto 35,6 por cento pensaram em suicidar-se.
Quanto aos rapazes que pensaram em pôr termo à vida, foram 19,1 por cento, embora já tenham desejado estar mortos 25,3 por cento.”
Andamos preocupados com tudo e, ao mesmo tempo, andamos cegos. Discutimos o terrorismo, a casa pia, o bigbrother (minúsculas propositadas), o M.E.C, o calor, o fogo, as músicas de verão, este blog, aquele blog, o outro blog. Acusamos o umbiguismo, o Prado Coelho e o Luís Delgado. Veneramos uns, atacamos outros, ignoramos muitos. Ignoramos aqueles que nos rodeiam, ignorando assim um grave problema invisível: Aqueles que não vêm nas notícias e acabam por transformar-se numa das notícias mais tristes do nosso país.
Salto para o hiper-espaço aqui.
Botou fogo!
O dia em que o meu Sporting ficou em picadinho nas Antas… 2 de Setembro de 2003. Uma grande Adufada para o Porto.
Já que fomos comidos o melhor é beber um porto para afogar as mágoas!
As cerejas
«(…) Tivemos 7 tamagotchis e fomos felizes para sempre, que fica, como sabem, em parte nenhuma»
Sarah Adamopoulos, Ciberia, TSF, 1996(?)
As cerejas
A primeira:
«E se bem viveram, melhor morreram.»
As outras:
Um dia lí ou ouvi, já não sei bem, um escritor dizendo que o primeiro passo para escrever um romance é encontrar um final, um final mesmo antes de se construir o resto. Sei que franzi o sobrolho e cocei a cabeça; apesar de adorar sobremesas.
Lembrei-me do dito do escritor quando, num espantoso documentário em filme de curta-metragem sobre o país Basco, realizado por Orson Welles no imediato pós-II Guerra Mundial (exibido na RTP 2), fiquei a saber que as estórias de encantar bascas têm este fim: «E se bem viveram, melhor morreram» – assombradoramente diferente do nosso conhecido «E viveram felizes para sempre».
Podem-me chamar maluco, mas, assim que acabou o documentário, veio-me à cabeça um verso do «Fim» de Mário de Sá Carneiro e fiquei com uma vontade enorme de saber como é que um burro ajaezado à andaluza se distingue de um outro ajaezado de outra forma. Queria que alguém me contasse, em palavras fresquinhas… Para a troca tenho pelo menos um «Bem haja» guardado…
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(As linhas ali de cima são mais um prot-blogue de 1996 que traz ainda outro excerto desse outro Rui de então:
Estou a ouvir o primeiro «Cyberia» na TSF – e estaria a ouvi-lo na XFM se… – e digo-vos que é uma coisinha danadinha de boa: é original, delirante, arrepiante e, a espaços, hilariante: faz cocegas!!!…Virtuais.)
E agora num blogue perto de si.
For the record…
Dificilmente poderia estar mais de acordo com o que têm dito nos últimos dias estes dois blogues Catalaxia e Matamouros sobre o caso Casa Pia.
O debate ontem na Sic Notícias foi… estimulante. Começa também a ser aos poucos responsabilidade da minha geração (a mesma do Juiz Rui Teixeira – praticamente) melhorar este país. Impregnar o aparelho judicial dos fundamentos de um estado de direito (democrático) é preciso.
Acusação de congressista americano
Administração Bush acusada de distorcer a ciência para favorecer as suas posições
in Público de 2 de Setembro de 2003.
O que há de bom na administração Bush?
Memórias de um Proto-Blogue VIII
Escrito há sete anos e agora ressuscitado. O espanto de me espantar comigo! Amen.
Programa «Última Carta» Anotado
I
…Registo Final – Capítulo VIII
…Última semana de condicionamento
…Programa Última Carta
…Gatilho específico para o programa na série 414 de clonskização em neo-alga mais:
«Hello Dolly» (a melodia suprema)
…Conteúdo moral psico-induzido disparado aos primeiros acordes:
«Eu sou feliz.
Pertenço ao grupo de inteligência máxima.
Sou diferente e melhor do que os sub-neo-alga mais.
Sou fiel depositário da segurança da espécie.
Replico exactamente os «Perfeitos» escolhidos nos primórdios do tempo da Grande Ovelha.
(Pausa)
Cumpri.
Segui o caminho para ajudar no Fim Superior da Espécie.
Fui Soldado Alguíssimo e destrui o Cancro.
Eu [espaço de quatro segundos para a designação particular de cada unidade clonsky] continuo para sempre.
Serei a espécie de amanhã.
Em nome da Grande Ovelha: Hello Dolly!»
…Conteúdo motricional psico-induzido disparado aos primeiros acordes:
«Eu [espaço de quatro segundos para a designação particular de cada unidade clonsky] devo ajoelhar-me.
Erguer os braços perpendicularmente ao solo.
Devo juntar as palmas das mãos sobre a cabeça entrelaçando os dedos e assim ficar até ouvir o Condicionador Supremo.»
…Conteúdo moral psico-induzido disparado ao terminar o último acorde ou quando a melodia seja interrompida:
«A voz que ouves é a do Condicionador Supremo.
Presta atenção e cumpre.
Presta atenção e cumpre.
Deixa que continue o fim do fim.
Hello Dolly, [espaço de quatro segundos para a designação particular de cada unidade clonsky], Hello Dolly»
…Conteúdo motricional psico-induzido disparado no momento do fim da melodia suprema ou quando esta seja interrompida:
«Devo assumir a posição fetal.
Devo entrar em atrofia total de funcionamento cognitivo consciente.»
…Repetir programa «Última Carta» cem vezes, durante a semana de condicionamento.
…Programa Borracha Atómica para branqueamento do condicionamento da série 414 de clonskização em neo-alga mais
…Gatilho descondicionador geral: «This isn’t Luis!»
…Fim do processo global de condicionamento da série 414 de clonskização em neo-alga mais.
…Director Geral para o programa «Última Carta»
…Alf Joca Novsky
…Sumo Ovino da Série VIII
…Nostradamos Fédon Memé
…Hello Dolly!
…Clonecity-in-bocanovsky, Oitava Ovelha (740,34).
NOTA: Paródias incidentais ao livro «Admirável Mundo Novo» de Aldous Huxley
II
Se morresse hoje, não deixava carta nenhuma.
Não tenho absolutamente nada a dizer, tal como não tenho nada a dizer quando morre um amigo da minha idade (ou que ande lá perto). Nessas alturas demoram a vir as palavras.
No máximo praguejava, coisa que faço raramente, mas que, de tanto uso e abuso que tem por aí, não se traduziria em nada de significativo para quem me ouvisse à distância.
*
Não é preciso chegar à bocanovskização:
Imaginem-se no vosso leito de morte.
Imaginem que uma filha vossa se despede e promete que irá ter um filho exactamente igual a vocês.
O momento da morte será o momento da recriação de um ser fisicamente idêntico.
Exemplo: outras fotografias com um corpo e cara igual à vossa surgirão muito depois de terdes desaparecido.
«Vós» sereis o vosso neto; haverá uma paragem genética naquele ponto.
Qual seria a vossa última carta para essa filha?
*
Mais perto do início do que agora, havia seres unicelulares (ainda há!) que não se reproduziam através do sexo; um limitava-se a dividir-se em dois. Um que exista não será filho do um inicial, pois o um inicial nunca morre de facto enquanto houver um que resulte de uma divisão de outro que não desapareceu no processo – nem sequer haverá um «mais inicial» do que o outro pois esse será seu irmão de divisão. Não há vida e morte, há vida e (talvez) crescimento, há outra espécie de imortalidade, menos poética e mais física.
Hoje sabemos que esses seres não mudaram tanto como os que surgiram mais tardiamente com sexo. Em princípio têm também menos hipóteses de resistir a mudanças ambientais, pois jogam menos vezes no totoloto, ou seja, não fazem as apostas multiplas que resultam do cruzamento de dois seres diferentes, de sexos diferentes que produzirão um outro diferente de todos os outros anteriores e que, portanto, apresenta uma nova chave no jogo da sobrevivência.
O caminho natural (obra do acaso das mutações genéticas) inventou o «It takes two, baby» para fazer um bébé. Agora regredimos e substituimo-nos à manipulação genética natural.
Para começar paramo-la (clonagem), qualquer dia substitui-la-emos – refiro-me aos seres humanos, pois com outras espécie é pratica frequente – e talvez surja o «it takes three or four, why not une million, baby?».
Teremos mais um brinquedo para atingir a perfeição, sem acto sexual natural a estorvar – não demorará muito o orgasmómetro de Allen [Woody] para satisfazer os humanos e para não complicar mais a perfeição. Mas a perfeição segundo quem? E que diabo é isso de perfeição no mundo não metafísico? Chamem-me maluco, mas isto faz-me lembrar algumas passagens da discussão sobre o aborto (noutro dia eu explico-me).
No Direito há uma coisinha chamada o abuso do direito que avisa para a existência de limites sobre o exercício de um direito apesar de este ser geralmente aplicável. Será que não deve haver abuso da ciência? Mas quem é que vai responder a estas perguntas? Primeiro era preciso haver políticos generalistas que aconselhados por técnicos (e não mais do que isso) estivessem em condições de começar o processo de discussão.
Quando tiver mais um tempinho gostava de tentar escrever umas coisinhas assim bem reflectidas e sabiamente desgarradas. É que esta semana descobri o menos mau dos métodos para se tomar decisões… Ainda não fiz todos os teste necessários por isso não o divulgo (ainda) aqui na Nature. Talvez haja musa, também para as coisas aparentemente mais denotativas ela é necessária. Por agora, antes de pôr as celulazinhas cinzentas a trabalhar, quase desejo a solução mais fácil: que os clones morram todos de cancro!
Ainda somos muito pouco crianças.
Tenho dito (mas só um bocadinho).
John Doe Rosebud
21 anos, Caipira irritadiço, Grã-Lisboa
O dinheiro
Ofereceram-me Os Tribalistas
Convidaram-me para jantar.
Comprei pela primeira vez a Grande Reportagem.
E ofereci-me a mim mesmo um Equador para ler.
Dia raro, com mais de 24 horas este.
Cof cof
Já não estava habituado a esta porcaria de atmosfera lisboeta.