Espero que este que ali transcrevo tenha sido… o mais infeliz dos post
…alguma vez publicado ou a publicar por José Pacheco Pereira (act.)

Vou guardá-lo aqui para mais tarde recordar.
Felizmente comprei o jornal, felizmente tenho olhos na cara e neurónios na cabeça para fazer a minha crítica de um jornal, da sua capa, da História que conta. Uma História que se vai fazendo e que merece o respeito da memória. Em nome do futuro!
Nasci em 1975 e tenho o direito ao passado na capa dos jornais. Nem que seja apenas quando se comemoram números redondos, bonitos para as notícias como os “30 anos depois de”. Ou quando os acontecimentos ainda fazem sangrar a alma de todos os que por cá andam e já (ainda) sabem ler ou pensar.
Qual é a vergonha do Público José Pacheco Pereira? Onde está o pecado de assinalar (bem desproporcionadamente sublinhe-se) duas efemérides marcantes na história recente? Teme que aconteça “o quê”?
Que eu incauto e estúpido leitor não perceba a diferença?
Indigno-me porque lhe dispenso-lhe a si e a qualquer outro cidadão esse favor paternalista e humilhante que me oferece ao justificar a censura com a minha estupidez.
Já basta a erosão incontornável da memória para termos reforçados critérios de selectividade.

Agradeço ao Público e a todos os que resistem a desconsiderar quem os lê. Contrariamente a alguns – como o Cão de Guarda – em nada me surpreendeu o Público trazer o Chile para primeira página. Seria mais do que natural referir e analisar os 30 anos após a destituição de “um governo de legitimidade democrática” que marcou toda a América Latina e o mundo bipolar de então. Louvo até aquilo que o Cão de Guarda interpreta como uma “pornográfica tentativa de sedução” de uma certa esquerda. E louvo não porque veja na capa, ou no que esta pode insinuar, “a verdade”, mas porque desperta uma dúvida que outros tão velozmente desprezam e adjectivam pejorativamente.
Ao “expansionismo americano” dos fins que justificam os meios da guerra fria, de que o golpe no Chile é o paradigma, parece estar a seguir-se um “expansionismo” da super-potência conscientemente exercido pela acção visível em alguns campos (económico, militar), e, talvez criteriosamente, omisso em relação a outras heranças, fundadas e/ou acicatadas durante a guerra fria (a questão israelo-palestiniana, o desequilíbrio económico mundial). Mudou a conjuntura internacional mas ressurge a supremacia inegociável do interesse do estado, onde, de novo, os fins parecem justificar os meios (pouco empenhamento na questão israelo-árabe, desprezo pela lógica do compromisso internacional no ambiente/economia/defesa). Uma cartilha que a actual administração tornou mais evidente ainda antes do 11 de Setembro.
Os riscos das velhas práticas e interpretações simplistas do passado têm no ataque de 2001 a prova da sua real dimensão hoje.
O poder da super-potência parece estar hoje mais em cheque que no mundo mais maniqueista do passado bipolar. E o que leio no Público, o que eu construo através da capa e de todo o jornal, no que se refere à relação entre as duas datas, é o alerta para o perigo de querer interpretar, de novo, este mundo com uma visão simplista dos bons e dos maus, não percebendo que é vital um saldo positivo entre os que se eliminam e os que se semeiam; pressentindo-se que não é solução imitar Ariel Sharon e Arafat para resolver o mundo. Somos frágeis, o símbolo da força foi ferido, não basta mandar os aviões e substituir o incomodo pelo fantoche. Quão diferente é o mundo entre aqueles dois momentos, quão diferentes terão de ser as soluções, diz-me o Público.
Lamento os que manipulam por dentro e por fora, as notícias que lemos.

Contra esses o único caminho seguro é o combate à ignorância.

Espero sentado pela sua resposta, ou comentário, JPP, como é costume. Ou melhor, deitado. Boas noites!
Rui MC Branco

Para memória futura:

11 DE SETEMBRO

Alguém do Público anda a ler os blogues e encontrou aqui a inspiração para fazer uma capa do jornal com uma mensagem política inadmissível: a equivalência do 11 de Setembro de 1973, o golpe de Pinochet, e o 11 de Setembro de 2001, os ataques da Al Qaeda aos EUA. A mera colocação, no mesmo plano de uma capa, das duas datas, ligando acontecimentos de natureza muito diversa, que nada une, cujo significado político actual não é confundível, que remetem para realidades políticas estruturalmente distintas, é todo um programa.

Na TSF, José Manuel Pureza explicou aquilo que a capa do Público diz: tinha sentido associar os dois onze de Setembro pois estes estavam unidos pelo “expansionismo americanoâ€?. Está tudo esclarecido. É uma forma de pensar próxima do negacionismo do holocausto. E campos de concentração será que houve?
in ABRUPTO

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