Ora, ora… Um prometedor e útil portal para quem quer ter o primeiro contacto com a Beira Baixa. Se bem percebo, desenvolvido pela ADRACES – ASSOCIAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DA RAIA CENTRO-SUL. Ainda há muito em construção mas já é possível encontrar referências históricas, demográficas e sociais para as freguesias dos concelhos raianos de Castelo Branco, Idanha a Nova, Vila Velha de Rodão e Penamacor. Não faltam as referências de equipamentos hoteleiros, restaurantes e locais turísticos de interesse. Tudo muito sintetizado, bonito e limpinho. O Adufe tem de acarinhar…
Tomo a liberdade de reproduzir aqui três pequenos textos da parte mais literária do Bis- Net, a saber: alguns dos Contos, Lendas e Tradições que surgem nas páginas dedicadas às aldeias (seleciono apenas aldeias de Penamacor). Já agora, não se esqueçam de visitar, serão todos benquistos concerteza.

Aldeia do Bispo

O Frade e a Freira
Em tempos muito remotos havia dois conventos, destinando-se um a homens o outro a mulheres. A distância que separava as duas casas de recolhimento não era pequena. Contudo, o regulamento dos dois claustros proibia a entrada dos frades nos conventos das freiras e a destas no daqueles. Passaram anos, que perfizeram séculos, não havendo nada que fosse contra esta disposição monástica. Um dia, porém, em falso monge, qual outro lobo vestido com a pele de cordeiro, entrou no mosteiro das freiras e seduz uma pobre religiosa. Ambos fogem das casas que os haviam acolhido hospitaleira e religiosamente. Em breve, ao toque das matinas, se notou nos mosteiros a falta dos religiosos. Procuraram-nos por montes e vales, por desertos e povoados e em vão foram feitas estas buscas. Como deviam aparecer, se eles tinham fugido num cavalo que andava tanto como o vento? Os superiores de ambos os mosteiros viveram horas amargas pela fuga dos monges. Um dia, porém, viram, com grande surpresa, em elegante cavalo que caminhava dum convento para o outro, parecendo querer oferecer os seus serviços àquelas casas de penitência. Os videntes não se enganaram. Este cavalo, que misteriosamente lhes apareceu tinha a qualidade de andar tanto como o pensamento. Então um frade dos mais destemidos, depois de arraçoar o animal, toma lugar na cela, e numa correria fantástica, o animal levou-o, num abrir e fechar de olhos, ao local longínquo, onde os fugitivos se encontravam. Como castigo, estes dois maus religiosos são levados para o cabeço da portela, a oriente da Aldeia do Bispo, junto às minas do Pinheiro e, ali, como a mulher de Lot transformada em estátua de sal, são convertidos em estátua de duro granito. Lá se encontram ainda hoje, expiando o castigo da sua culpa, aos olhos de todos quantos ali passam. O cabeço onde o castigo se operou, tem o nome de Cabeço do Frade e da Freira.

Bemposta

Senhora da Silva
Segundo a tradição, a imagem da Senhora da Silva, orago da freguesia e, que ainda hoje se venera, apareceu, em tempos idos, no tronco ocado de uma oliveira, rodeada de silvas que dava pequenas rosas brancas, como a neve pura nas altas montanhas. Estas flores são conhecidas por rosas bravas. Ainda se podem ver no lugar da aparição restos do arbusto. Ao aparecimento da imagem é-lhe dada a seguinte interpretação: em tempos muito remotos de guerras e perturbações sucedeu, várias vezes, os habitantes das povoações abandonarem as suas terras e, portanto, as suas casas. Acontecia, como em todos os povos da antiguidade, durante estas lutas, que os habitantes escondiam, enterrando-os por vezes, os seus haveres, para que não lhe fossem destruídos ou roubados. Ora a Imagem de Nossa Senhora, que é de roca e vestida, como diz o povo, apesar de nada ter de artístico, foi contudo sempre venerada como padroeira do povo de Bemposta. Os habitantes tiveram, em ocasiões de luta, de abandonarem os seus lares. Para que a Imagem da sua padroeira não fosse profanada pelos povos invasores, esconderam-na enterrando-a. Estes povos não mais voltaram e a imagem permaneceu no esconderijo. Nele nasceu um silvado que, na Primavera, floresce de rosas brancas, como brancas são as virtudes. Num dia porém, o dono da propriedade lembrou-se, certamente por necessidade de cultura, de cortar o silvado e arrotear o terreno. Qual não foi a surpresa do agricultor ao encontrar a imagem de Nossa Senhora que, desde esse dia, foi levada para a Igreja Matriz, tomando o nome de Senhora da Silva em homenagem ao arbusto deste nome, nascido no local.

Benquerença

O Cruzeiro
Conta-se que, em tempos idos, todas as freguesias que ficassem a menos de duas léguas da sede de concelho, no dia do Corpo de Deus, eram obrigadas a fazerem-se representar na procissão que ali se realizava. Como o caminho era difícil e penoso, um ano a Benquerença faltou e foi processada. O tribunal mandou medir a distância e como a freguesia ainda não chegava onde hoje chega, foi absolvida porque as duas léguas foram marcada fora do perímetro da freguesia. Esta, em sinal de alegria e por se ver desobrigada daquele compromisso, construiu no local um cruzeiro assinalando-o. A data deve ter sido 1774, pois é a que está marcada na pedra que servia de base ao cruzeiro primitivo e que houve o cuidado de conservar na base actual.

Todas as imagem foram retiradas daqui.

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