Desde já agradeço a resposta de O Carimbo ao meu post “Em defesa do presidente de todos os portugueses“.

Para evitar muitas delongas, sem negar a devida resposta, regresso à polémica de uma forma mais mecânica do que literária. Esperemos que fundamentada e explícita.

No post de resposta onde O Carimbo expõe os argumentos para rebater as minhas críticas, O Carimbo pergunta, e bem,: «Se não houve desrespeito pela hierarquia militar, porque sentiram o Primeiro Ministro (PM) e o Almirante Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA) a necessidade de lembrar a todos nós que “o chefe militar de mais elevada autoridade na hierarquia das Forças Armadas é mesmo o CEMGFAâ€?? Porque disse o Almirante Mendes Cabeçadas que só ele e os Chefes de Estado-Maior dos ramos podem representar com legitimidade os interesses das Forças Armadas?â€? Talvez tenha sido porque um General (na reserva) tinha acabado de ser mandatado para representar os interesses do Exército perante o PM?» Sublinho que nunca ouvi os senhores oficiais abalançarem-se em tal intento. Lembro até declarações do General Loureiro dos Santos na SIC – Notícias, na noite do jantar, a recusar essa conclusão sobre o objectivo do jantar. Pressão sim, mas com o peso que a sociedade e o PR quisesse dar à opinião das pessoas em questão – bem conscientes de que podem falar porque já não estão subordinadas.
Usaram dos seus direitos cívicos, manifestando a sua posição pública e política sobre a demissão e fizeram a critica que entendiam ao governo e ao comportamento do ministro da defesa. A que propósito é que esses senhores deveriam guardar reserva sobre matéria que consideraram tão grave? A politica de defesa, assim como a aplicação da justiça, por exemplo, não são, nem podem ser vacas sagradas indiscutíveis.

Como pergunta O Carimbo repito, porque é que o CEMGFA se sentiu na obrigação de esclarecer o óbvio? A minha pergunta de retórica é, contudo, outra “Alguém acredita que a situação é tão grave que há o real risco de o Exército se rever mais nos seus ex-representantes militares do que nos actuais (políticos e militares)?â€? Espero sinceramente que não. Não terão sido as declarações do CEMGFA um favor político ao MD? Não sei, não posso afirmá-lo. Mas pareceram-me despropositadas, dando elas sim uma conotação ao tal jantar que este não deveria merecer. Um erro a que o PR se furtou.

Confesso que não entendo a força de argumentos como os que suponho estarem implícitos em “Porque têm apenas sete cidadãos (que são, em princípio, iguais aos outros) o direito a saber as razões da demissão do GSV? É que à população portuguesa foi dito, pelo próprio GSV, que não podia tornar públicas as razões da perda de confiança no Ministro da Defesa (MD) devido ao respeito que lhe mereciam a instituição militar e aqueles que serviam o Exército Português. Pois.â€? Sendo coerente com o que disse, acho que o GSV tem todo o direito de tornar públicas as razões da demissão, assim como lhe assiste o direito de traçar ele próprio uma fronteira de nojo (a que, repito, não julguo que esteja/estivesse obrigado). Pelo posição d’O Carimbo esta reserva do GSV deveria ser de louvar (ainda que escassa por não dever ter permitido sequer a tal conversa com os cidadãos portugueses porventura mais competentes para criticar a matéria em causa).

Sublinho que o “disparateâ€? que mais me choca é a qualificação da atitude do presidente como um favor ao país socialista. Seria impossível o PR ter sido mais coerente e isento. Como disse, a memória das afirmações do PR desde o início do seu primeiro mandato sobre o assunto serve-lhe de defesa sobeja. Tem e teve a autoridade moral para dizer o que disse sendo as suas palavras naturalmente mais marcantes por esse mesmo facto.

Os compromissos do governo são assumidas por quatro anos mas tomando por bons compromissos voluntariamente definidos pelo MD, este criou uma expectativa de solução bem mais imediatista. Talvez por excesso de início de mandato ou deficiência crónica de personalidade. Quem o conhece facilmente esclarece esta dúvida.

Não é de facto tempo de discutir que forças armadas queremos, é tempo de implementar a lei já aprovada que expressa a resposta a essa pergunta aprovada pela Assembleia da República. No entanto, adiar o seu cumprimento devidamente calendarizado, mesmo sob pretexto da contenção orçamental, não é inócuo. Tudo pode ser posto em causa pela demora. Assim acontece na defesa, numa empresa ou num lar. Esperemos que não se chegue ao ponto de tudo ficar de novo em causa… Como no passado.

Como em boa parte da resposta – que na realidade não o é, e bem, pois como expressei a dada altura, alarguei o meu post a outras críticas da vox populi das quais encontrei algumas ressonâncias no post do Carimbo – concordamos em concordar, termino comentando a última frase que encerra o post do Carimbo:

“Voltando ao “supônhamos”, a hipótese de ligação que aqui descrevo entre o PR, o PS e o GSV não é mais disparatada do que a tese da cabala contra o PS defendida (e constantemente repetida) por Ferro Rodrigues.â€?

Atendendo a que, com os dados que conheço, a cabala de Ferro Rodrigues não fornece qualquer argumento sólido que me permita duvidar seriamente dos procedimentos judiciais em vigor – com os quais discordo em larga medida mas que defendo integralmente até se alterar a lei -, também a ligação descrita entre PR, PS e GSV se me afigura como um exercício demasiado efabulatório e particularmente injusto para o PR… até prova em contrário.

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