Isto só lá vai com muita FEE ou UFE (Federação Europeia de Estados ou União Federal de Estados). A prazo as soluções ad hoc, os paizinhos sejam eles Alemães, Franceses ou Marcianos dão buraco, até porque não vindo a autoridade pela representatividade democrática temos de lhe encontrar outra fonte. Sendo ela como parece ser por agora, a lei do mais forte, é fácil recordar, como fez ontem Trichet, que todos têm telhados (e histórias) de vidro.
Se tivéssemos conseguido avançar mais depressa para a construção de um pilar político comum, se tivesses conseguido construir um governo democrático comum, se tivéssemos assumido há mais tempo um destino integral comum não estaríamos agora em vias de invocar paizinhos de ocasião ou, ou se nos submeter, a fanfarrões de ocasião (como queiram).
Com a excepção da Grécia, ninguém prevaricou verdadeiramente face ao que em concílio fomos congeminando. Se há culpa de que os pequenos e médios países se podem recriminar é a de terem sido pouco ambiciosos, de não terem tido maior capacidade de antecipação e de intervenção. É certo que todos falharam nesse particular (ainda que alguns se façam de esquecidos), mas deveria ser quem anda de quando em vez com o chapéu emprestado para se abrigar da chuva que devia arrepiar caminho. Particularmente, nós que não largamos o guarda-chuva. Mas como? Em vez de se ocuparem de polir os sapatinhos dos grandes, deviam zunir-lhes nos ouvidos que isto não vai lá sem rede mosquiteira.
A Europa, no seio de muitos países, tem a prova do que lhe falta como União de Países: coesão. Coesão que não advindo da língua não pode deixar de vir da capacidade de gerir a sua diversidade em termos económicos, de gerir os seus interesses em termos políticos e de se auto-respeitar afirmando-se colectivamente como uma das maiores democracias do Mundo.
Haverá graus de liberdade para governos locais, para alguma política externa local, para alguma diversidade democrática interna ao nível dos sistemas eleitorais, mas tem de se definir e estabilizar um denominador mínimo comum. Mas um mínimo mais robusto e transversal do que o actual; algo que não pode ter a geometria variável ditada pelo poder mais troante e efémero de um Estado ou parelha de Estados alheios e multiplamente distantes. Algo que tem que partir da assumpção política de uma alma comum, aquilo que a cada dia que passa anima e consolida de forma discreta e indelével (mas ainda não irreversível) uma entidade europeia comum que os cidadãos e esforçadamente muito actores políticos no seio do Parlamento Europeu e de outras instituições pouco amadas têm cuidado de construir.
O tempo não é para estender a mão como pedintes, é tempo para puxarmos pelas nossas botas e erguer a cabeça duplamente: para mantermos o nosso amor próprio sem o qual nos condenamos e para usarmos de um recurso tantas vezes subestimado e do qual não somos menos dotados, a inteligência que nos faz Homens e um povo diferenciado.
Não é esta a hora para se apontarem pela Europa, Estados e Povos de gente segunda classe até porque tal convencimento é verdadeiramente um tremendo e histórico disparate que, como antes, se poderá vir a pagar muito caro. Mais democracia, mais política, mas responsabilização, mais soberania partilhada. É fundamental e urgente a Europa encontrar de uma vez, a sua forma ideal de federalismo total. Até lá, somos nós quem terá mais a perder.