No dia em que o terrorismo fez mais algumas dezenas de vítimas continuamos com fortes suspeitas de estar a perder uma guerra. Não pelo número das vítimas mas pela falta de entendimento de como lidar com a situação, patente nos meios e métodos aplicados pelos representantes da civilização que se sente ameaçada.
Depois do 11 de Setembro foi feito talvez o mais espantoso esforço de cooperação internacional entre polícias. Rápido, dedicado e eficaz. A ideia que passou foi de que a ameaça tinha sido fortemente limitada.
Com o surgimento da teoria do Eixo do Mal, com os desvios maniqueistas da superpotência e dos seus aliados – uma teoria tão amplamente defendida nesta blogoesfera – tudo se confundiu. Perdeu-se o rumo que era (e é) indispensável encontrar e a fonte da ameaça depressa recomeçou a proliferar no pós-Afeganistão.

Em Israel, a pergunta parece mais evidente, mais nítida: estaremos a abater terroristas a uma velocidade suficiente ou o contingente não pára de aumentar?
A cada dia que passa (com os Estados organizados ditos civilizados a julgarem ser esta a pergunta decisiva), estamos mais e mais longe de uma guerra contra o terrorismo e mais próximos de uma guerra total, baseada provavelmente em preceitos fanático-religiosos (meros pretextos) inspirados pelo ódio, pela desesperança e pelo instinto de sobrevivência. Concordando ou não com o caminho que nos levou até aqui e que nos poderá levar a uma nova e terrível fase, todos corremos o risco de ser arrastados para uma guerra essa sim civilizacional que nunca deveria surgir mas que se poderá promover pelo terror e pela estúpida reacção a este.
Custa a perceber, a ter uma resposta para o porquê perante um acto bárbaro que mate dezenas de pessoas no decurso normal e pacífico da sua existência, mas temos de perceber, é imperioso compreender como se chega àquele acto.
O Terror alimenta-se das faltas que praticamos ou desvalorizamos, do desprezo e da ignorância, sempre foi assim. Para alguns o Terror terá sido (e é) um meio, mas muitas vezes acaba por ser um fim, uma solução de escatológica, por isso mesmo é Terror e não outra coisa como uma disputa, uma revolução ou uma guerra.
É preciso não esquecer que todos temos o nosso limite e se acreditarmos que a santidade a existir é demasiado rara percebemos que a prática do Terror pode ser uma opção. A barbárie parece estar sempre mais próxima de nós do que queremos acreditar e muitas vezes não passa de uma questão de perspectiva (ainda que histórica). Sem dor, sem sofrimento, sem desrespeito, sem desesperança, o mal, o tal Mal que o Bush messiânico quer debelar, por si não perdura, não floresce. O problema é que mesmo perante um homem que se formou e conheceu livre, não formatado nas escolas do Terror, é possível imaginá-lo a perder a razão, a não lhe bastar o amor pelos filhos. Um amor que nada vale quando os vê mortos ou sob ameaça avassaladora. Nesse caso, espalhar o terror é o caminho mais fácil para a libertação. Para mim o homem é permeável ao bem tanto ou mais do que ao mal e é essencialmente uma mistura conflituosa de contradições que procura ordenar. Resta saber, se nesta contingência histórica por que passamos – e que neste tempo de um homem com poder sobre o destino de todos o seu pequeno mundo pode sempre ser a última – ainda estaremos a tempo de poder mudar as premissas em que assenta este tipo de perguntas que se ouvem em Israel ou na Casa Branca.

Resolver Israel/Palestina, criar as condições para a coabitação de dois Estados independentes condenados ao respeito mútuo é cada vez mais crucial. Talvez depois seja mais fácil perceber qual o passo seguinte para ganhar as restantes batalhas da guerra que restar.

(edição inicial às 23:07 20/11/2003)

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