Ainda há dois dias aqui trouxe o tema da rede ferroviária
Hoje o Público (notícia em anexo) aborda a questão (Carlos Cipriano) por ter reparado que:
Cidades como Figueira da Foz, Portimão, Lagos, Évora, Viana do Castelo e Valença estão excluidas de folheto sobre viagens interurbanas e regionais“.
Mais adiante o Público escreve:
Algumas das linhas agora apagadas da geografia ferroviária portuguesa têm um tráfego residual devido ao mau serviço prestado e à fraca procura, de tal modo que as receitas de exploração só cobrem 30 por cento dos custos. Mas outras têm registado tráfegos crescentes e são importantes alimentadores da rede principal. ” e acresenta:
O PÚBLICO pediu várias vezes à CP esclarecimentos sobre este assunto, mas nunca obteve resposta.

As linhas não são promovidas mas continuam a operar… Talvez até ao dia em que finalmente todas apresentem inequívocos prejuízos.
O sector de tranportes parece andar ao deus-dará, não se vislumbra o mais modesto dos raciocínios estratégicos por parte do Governo. Qual é o plano?
Deveremos entender este folheto como uma carta de intenções? O caminho será o de encerrar definitivamente toda a rede nacional co mexcepção do eixo TGV? A história parece dizer-nos que sim, uma tendência que também o actual poder executivo parece desejar prolongar.
Évora, Viseu, Vila Real, Guimarães… Não posso acreditar que não haja possibilidade de termos investimento reprodutivo ao nível ferroviário no país. Já para não falar dos ganhos colaterais.
Contra todas as regras clássicas das finanças públicas vai-se afectar uma parte do imposto sobre os produtos petrolíferos à floresta. Seguindo essa linha, seria igualmente recomendável durante alguns anos canalizar parte das verbas desse mesmo imposto para a dinamização da alternativa ferroviária. Um modesto mas pedagógico contributo. Enfim, é só uma ideia desconexa, à medida do rumo que leva o ordenamento de Portugal. Só para tentar dar a entender que o cu tem alguma coisa a ver com as calças.

A notícia completa:

Mapa da CP Ignora Um Terço da Rede Ferroviária Portuguesa
Por CARLOS CIPRIANO
Sexta-feira, 28 de Novembro de 2003

A CP editou um folheto com uma mapa da rede ferroviária nacional, mas “esqueceu-se” de inserir mais de um terço das linhas onde os seus comboios circulam. De um total de 2800 quilómetros de linhas férreas no país, são 952 quilómetros que estão omissos do mapa ferroviário nacional.

Nele, a linha do Oeste acaba em Leiria e não segue para a Figueira da Foz, a linha do Minho morre em Nine, ficando Viana do Castelo e Valença apagados do mapa, e a Beira Baixa queda-se pela Covilhã e já não segue para a Guarda. A linha para Évora também está omissa e no Algarve só aparecem 39 quilómetros dos 141 que compõem aquela linha litoral que serve cidades como Lagos, Portimão, Olhão ou Vila Real de Stº. António.

No mesmo mapa, Coimbra é apenas um ponto, sem comboios para Figueira da Foz, Cantanhede ou Lousã, e no Alto Alentejo desapareceram as linhas para Portalegre, Elvas, Castelo de Vide e Marvão. Entre Aveiro e Espinho ignora-se também a linha que passa pelo interior servindo cidades como �gueda e Oliveira de Azeméis.

Quanto a ligações para Espanha, simplesmente não existem. E no entanto há quarto fronteiras com comboios diários entre os dois países: Valença, Vilar Formoso, Marvão e Elvas.

O documento pretende mostrar as principais estações da UVIR, a unidade de negócios da CP que se dedica, precisamente, às viagens interurbanas e regionais. Mas pode induzir em erro os clientes da CP, a quem é negada informação tão elementar como a de saber que há comboios do Porto para Viana e Guimarães, ou que a linha do Douro não morre na Régua, mas segue para o Pinhão e Pocinho, ou que de Beja também há comboios para sul.

Algumas das linhas agora apagadas da geografia ferroviária portuguesa têm um tráfego residual devido ao mau serviço prestado e à fraca procura, de tal modo que as receitas de exploração só cobrem 30 por cento dos custos. Mas outras têm registado tráfegos crescentes e são importantes alimentadores da rede principal.

O próprio presidente da CP, Martins de Brito, em declarações recentes ao PÚBLICO a propósito da alta velocidade, dizia que “a rede convencional terá de desempenhar uma importante função de alimentação da rede de alta velocidade e contribui decisivamente para a sua viabilidade económica”. Mas esta lógica não aparece estar a ser aplicada dentro da rede da CP, onde as linhas menos importantes são amputadas, impedindo que, por sua vez, sejam elas próprias geradoras de tráfego para as linhas principais.

Segundo fontes da própria empresa que pediram o anonimato, este mapa indicia aquilo que será no futuro a rede ferroviária convencional portuguesa, amputada já de 952 quilómetros de linhas.

De acordo com o ministro das Obras Públicas, Carmona Rodrigues, o projecto da alta velocidade será também financiado com o dinheiro que até agora era aplicado na modernização da rede convencional. Como as linhas agora omitidas são as que não foram ainda intervencionadas, ganha corpo a hipótese de estarem condenadas a definhar progressivamente.

O PÚBLICO pediu várias vezes à CP esclarecimentos sobre este assunto, mas nunca obteve resposta. in Público, 28 de Novembro 2003

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