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A TAP é muito precisa neste Natal, no próximo que se lixe

“11. O Conselho de Ministros aprovou a requisição civil dos trabalhadores das empresas do Grupo TAP em função da greve declarada pela plataforma de sindicatos do Grupo para os dias 27, 28, 29 e 30 de dezembro de 2014. Esta decisão visa assegurar serviços essenciais em defesa do interesse público nacional e de sectores vitais da economia nacional.” excerto do Comunicado do Conselho de Ministros

Diz o governo em comentário adicional que está a zelar pelos interesses dos emigrantes, garantindo-lhes o Natal. Hum…parece-me uma perspetiva de muitíssimo curto prazo. Se para o ano quando a empresa já privatizada seguir as pisadas de outras companhia de países com diáspora encerrar algumas linhas vitais para os emigrantes, como se proporia o governo defender o interesse público nacional que agora diz estar em causa? Onde está a coerência disto tudo? A TAP é muito precisa neste Natal, mas no dia seguinte o que ela fará ou deixará de fazer pode entregar-se a um investidor privado.

Anda um tipo, nesta história das privatizações, a batalhar para encontrar uma sólida linha de coerência (à esquerda, ao centro, à direita, em cima ou por baixo) e vem o governo e estatela-se com um estrondo monumental tropeçando nos próprios pés. Então se a TAP tem de ser privatizada e se isso é compatível com “assegurar serviços essenciais em defesa do interesse público nacional e de sectores vitais da economia nacional” porque raio numa greve se ameaça de cadeia quem faz greve na TAP?

O governo definia juntamente com os trabalhadores os serviços mínimos nas linhas onde a TAP praticamente não tenha concorrência e nas outras rotas deveria deixar a greve fazer o seu curso (concorde-se ou não com ela) deixando o mercado ajustar-se (já muitos cancelaram voos, compraram bilhetes em outras campanhias, etc) não devendo o governo esperar grande dano estratégico (além do dano que inevitavelmente uma greve sempre provoca).
O que vejo é um governo a proibir uma greve invocando argumentos absurdos face à opção política que defende – afinal está muito preocupado com os emigrantes.

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TAP e agora? (acrescentado)

Privatizar ou manter a TAP nacionalizada para mim não é uma questão de princípio (leia-se um dos dogma ideológicos que não tem de fazer prova de conjuntura). É antes daqueles casos candidatos a análise custo-benefício (ver sobre culpa no cartório o que se escreve aqui => Sérgio Figueiredo no Diário de Notícias: “A companhia de bandeira (a meia-haste)”). E para o PS ao longo dos últimos anos também está longe de ser questão clara. Convém ter isso em mente antes de se começar para aí a extremar a coisa. Parece-me prudente. Tentar ser coerente, ter consistência, um programa bem estruturado também passa por aqui e hoje vejo muita matéria para coçar a cabeça. Não é má vontade é mesmo perceber o sentido prático da coisa.
TAP privatizada no segundo semestre de 2001 – Jornal de Negócios

ADENDA: A sério, como é que se vende parcialmente a TAP no mercado atendendo à sua situação corrente – em boa parte “oferta” do atual governo? E em que percentagem? Há interessados? É que nem para pôr o dinheiro onde temos a ideologia a coisa é linear. Ajudem-me a perceber. A levar a coisa a sério.  É exquível nesta altura do campeonato apresentar uma privatização parcial via bolsa de valores como alternativa que viabiliza a companhia? É que o estado financeiro a que a empresa chegou, em boa parte pelo sucessivo desinvestimento e one-size-fits-all da política de austeridade não me parece deixar margem para acreditar que a empresa consegue “levantar” capital na bolsa para alimentar um plano viável mantendo o modelo estratégico corrente. Mas posso estar a ver mal. Obrigado.