“(…) Seguro pode ainda tentar emular Matteo Renzi.”
João Cardoso Rosas em Questões Pessoais no Diário Económico

António Costa liberta o Renzi que há em Seguro, acabei de ler no artigo de João Cardoso Rosas no Diário Económico. Um Renzi tolhido por gente má como as cobras, sabotadores por todo o lado, durante 3 anos, mas agora é que é. Graças a Costa, tudo irá mudar…

Quando se transforma uma contrariedade, alguém que diverge, que se nos opõe na arena política interna, a própria governação anterior, do mesmo partido, na personificação de todo o mal e a fonte de todos os nossos problemas só há uma coisa a fazer: consultar ajuda especializada que nenhuma contra-argumentação política poderá valer.

Nada disto é novo nas batalhas políticas – a divergência, o antigo com o novo poder, o seu conflito e mediação, o que estava e o que quer estar… O que é novo é esta interpretação completamente unidirecional. Não valeria a pena tentar de facto mudar os termos (durante estes três anos)? Quem teria o poder de ditar essa agenda de reflexão interna? Mas para quê encetar uma discussão sobre o passado, digeri-lo e recicla-lo quando pudemos simplesmente chamar ao outro sabotador?

Houve uns arremedos de generosidade pelo meio, mas onde vi falha no momento seguinte não foi em quem é agora diabolizado. Ficamos contentes connosco, arranjamos um inimigo comum para unir as tropas e… perdemos qualquer hipótese de conseguir ter um partido competente para governar. Este é talvez o maior de todos os problemas, uma permanente perceção de ameaça de um inimigo que nunca se quis enfrentar evitando assim o próprio conflito com eventuais fragilidades do nosso pensamento, da nossa narrativa e das nossas capacidades.

Continuo a achar que, do que vejo, o PS só consegue (e consegue) ser um grande partido, com os recursos necessários para a tarefa que se avizinha, caso venha a ser governo, se os melhores de todas as fações conseguirem encontrar um termo de entendimento e colaboração. Não há assim tanta gente boa e boa gente na vida política com dedicação e competência para fazer bons governos… É um facto. Com Costa no poder será também assim, a tropa não será suficiente ainda que me pareça bem mais próxima do ideal, mas com a solução atual presa numa visão a roçar a paranoia, a autoindulgência e autocomiseração não vejo como. Que se mude e depressa para se voltar a tentar começar a conversar. Com outra liderança, naturalmente. Isto não vai lá com Renzis serôdios.

 

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