Nota prévia: bem sei que o tempo é de pré-campanha, mas não ficaria de bem com a minha consciência sem este desabafo que espero encarem como uma crítica construtiva, um impulso para que chegar a um nível mais elevado, urgentemente.

Há tanto por onde o Estado pode ganhar eficiência e poupar recursos e gerar mais bens públicos e de melhor qualidade que até mete impressão. Não são gorduras, são processos.

Quem acha que Portugal tem o aparelho do Estado mais eficiente do mundo ponha o dedo no ar.

Dito isto: reduzir a reforma do Estado a “onde é que vamos cortar” ou a “mais ou menos Funcionários Públicos” ou “diferenças” entre “para mim só entra 1 por cada 5 que sai” ou só “entra 1 por cada 2 que sai” é de uma pobreza e estupidez absurdas.

Temos algumas áreas de excelência (em perigo ou já em degradação à mingua de recursos e da gestão de terra queimada em curso), temos outras onde, se nos faltar a imaginação, podemos usar boas práticas de outros Estados.

Atrevendo-nos a afirmar, sectorialmente, onde queremos Estado mas também o que queremos e como queremos que o Estado atue, no fim garantiríamos que por cada €uro aplicado extrairíamos mais retorno em termos de bens estar e capacidade como comunidade. E esta é a métrica que realmente interessa para a boa gestão da coisa pública e para se perceber e reconhecer o papel fulcral do Estado. A esquerda e a direita poderão divergir nos limites de ação mas não vejo como não convergir na forma de avaliação. Poderão até divergir na valorização do impacto nas componentes que nunca se conseguirão reduzir a uma variável numérica ou monetária (divergência que não será apenas um detalhe sublinhe-se), mas o fundamental do processo de análise podia e devia ser comum.

Muito pouco disto tem estado presente na gestão do Estado em período de crise, ocorrem-me exceções positivas (mesmo neste malfadado governo) mas que não são a regra.

Ora perante um governo absolutamente incapaz é obrigatório apresentar uma alternativa absolutamente estruturada. Que se tenha dado ao trabalho… Até agora não vi o suficiente dessa alternativa, em particular ao nível da construção de edifício intelectual que venha a estruturar a governação corrente. Admito que isto aconteça porque, em parte, o que já há de reflexão e pensamento estruturado tenha dificuldade em chegar aos media (logo às pessoas), mas não apenas por isso, essa justificação é insuficiente. Aliás, uma análise atenta da atualidade desmente que não haja espaço para veicular uma política alternativa, algo aliás que tem melhorado nas últimas semanas.

Haveria muita mensagem com impacto prático na governação futura que já poderia estar a ser escrutinada publicamente e que teria o apelo suficiente para conquistar espaço na agenda política.

Mas isso, anunciar o que se quer fazer não é mau para ganhar votos, perguntará o político mais amante do catenaccio?

Para ser muito direto, que tipo de governação se quer? Não se ganha autoridade para exercer o poder sem ganhar o respeito dos eleitores e sem envolver simpatizantes, militantes e eleitores em metas, objetivos e caminhos concretos relacionados com o dia-a-dia do cidadão comum mas também construindo uma mensagem que traga até às preocupações do cidadão comum mais fatores que lhe condicionam a vida e sobre os quais tem de ganhar consciência política.

Podemos até ganhar eleições, chegar ao governo, mas teremos uma fragilidade fundamental a tolher-nos a ação e a capacidade de cumprir com o que nos é exigido. Acho que temos bons exemplos recentes de como ganhar eleições pode ser uma tragédia para um país. Não basta conquistar o poder, é preciso hoje termos um compromisso quanto ao que queremos fazer com ele nos vários cenários de enquadramento económico e europeu que é possível imaginar e isso não tem sido feito cumprindo com os mínimos de exigência que a dificuldade do momento impõe. Pelo menos este eleitor sente-se na obrigação de pedir mais.

É certo que é impossível esculpir em pedra o que se fará num governo a 4 anos, mas é fundamental ir além princípios mal preenchidos por uma mão cheia de reações à política atual.

Se há dificuldades e obstáculos hoje, às portas de uma campanha (e por várias vezes, em público, até nos telejornais, tenho ouvido este lamento da falta de recursos), é fundamental encontrar como superá-los. Governar, não será certamente mais fácil.

No governo controla-se a agenda? Sim, controla, ou pelo menos será mais fácil. Mas… o que é que se vai querer pôr na agenda se tão pouco ganhou (ganhará) tração na sociedade enquanto se prepara a eleição? Quem tem a ilusão de que tudo se resolve como uma reserva mental, que depois é que é, confiantes que aparecerão os técnicos, os quadros… Provavelmente o “saber” encaminhar-se-á para, mais uma vez, ser ultrapassado pela esquerda e pela direita, pelas agendas de quem sempre soube e saberá o que quer. Quem pensar assim estará condenado a ficar aquém do exigível ou a ter de confiar num milagre.

Autocomiseração e lições estafadas de tática eleitoral próprias do século XX são péssimas companhias de cabeceira.

Melhor é possível. Vamos a isso?

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