Escrevi há pouco no twitter e no Facebook o que se segue:

Não há gorduras no Estado? Há sim.

Eis um exemplo: Quantos milhões por ano custam, em organismos do Estado, as centenas de emprateleirados que estão a receber como chefia que deixaram de ser e ficaram de “assessores”? Falo de malta que em muitos casos é ultracompetente e a quem não são entregues funções e pairam nas instituições órfãos de uma gestão de Recursos Humanos decente, no Estado, num sistema que lhes bloqueia a continuação da sua carreira e impede tantas vezes que contribuam de forma útil e proporcional ao vencimento que auferem?

 E fui interpelado com uma crítica sensata que foi no sentido de me sublinhar que, sendo verdade, esta poupança faria pouca diferença nas contas. Como responder a isto? Talvez assim:

 Cada exemplo das gorduras do Estado provavelmente não irá além de uns tostões, vá uns milhões, com jeito umas dezenas de milhões e muito raramente acima da centena de milhões. Não faço ideia a quanto poderão chegar todos juntos mas assumo que o impacto será limitado no “grande esquema das coisas”. Aliás, colocar o impacto real desta reflexão orçamental em perspetiva no tal “grande esquema das contas do Estado” fez particular sentido para ridicularizar a miragem pré-eleições de 2011, protagonizada pelo PSD, na qual se resolveria o desequilibrio do Estado cortando, (era quanto?) dois mil milhões só em gorduras. Nada se fez. Mas…

 Mais que não seja por se andarem a cortam coisas como o limiar máximo do Rendimento Social de Reinserção (RSI) em cerca de €10 para poupar uns tostões, seria criminoso não olhar de forma crítica, buscando ganhos de eficiência, no funcionamento do Estado.

Em bom rigor, o exemplo do RSI até releva pouco pois a prática da boa gestão da coisa pública não precisa de estímulos empíricos concretos de absurdos de gestão, deve ser um objetivo permanente, tão mais caro quanto mais crente no papel do Estado for o ator político (e não ao contrário!).

 Afinal, o que temos a perder em identificar e agir sobre esses exemplos?

Não consigo deixar de pensar que um euro mal gasto vale mais do que o seu valor nominal se a seguir for aplicado numa boa despesa. Nem me consigo esquecer do “multiplicador negativo” associado à constatação da má despesa entre quem dela toma nota e que com ela convive regularmente de forma mais ou menos impotente.

Não resolveremos todos os nossos males por aqui, mas devemos fazê-lo também por aqui.
Zelar pela boa gestão do Estado devia ser um dos princípios basilares numa agenda progressista. Será que não é?

Publicado originalmente no 365 Forte.

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