É engraçado pensar que os filmes que não me canso de rever não são necessariamente os meus favoritos. São os que mais me divertem ou entretêm. O critério foi: “quais os filmes que eu fico de propósito acordada até as tantas para (re)ver se vejo anunciado que vão passar na televisão”.

Casablanca, Michael Curtiz, 1942
O Umberto Eco já disse tudo sobre este filme por isso escuso de estar a inventar: “De acordo com os padrões estéticos actuais, Casablanca não é uma obra de arte. É uma amálgama de cenas sensacionais ligadas entre si de forma implausível; os seus personagens são psicologicamente inverosímeis, os seus actores estão cheios de maneirismos. Mas é um
fabuloso exemplo de discurso cinematográfico (…). Mais do que isso é um filme de culto. E quais são os requisitos para que um filme seja um objecto de culto? A obra tem ser amada. Tem de fornecer um mundo completo, para que os fãs possam citar personagens e episódios como se
fossem credos de um secto, um mundo privado, um mundo sobre o qual se fazer concursos de perguntas e respostas. E o conteúdo terá de apelar usando arquétipos.
” Tradução minha, assim um bocado livre.

Hannah and her Sisters, Woody Allen, 1986
Não é só por ser uma Woodyallenite convicta (ou não tanto, depois destes últimos filmes da tanga onde falta o personagem principal que é New York). É que a banda sonora é extraordinária. É que a procura de um significado para a vida através das várias religiões que o personagem do
Woody faz é das coisas que mais me fizeram rir na vida. É que a Dianne Wiest faz um papel fabuloso. Esteticamente, as cenas são lindas – o Outono em Central Park é sempre um bom cenário. É que graças a este filme, descobri o e. e. Cummings aos 13 anos quando o Michael Caine lê, com aquele sotaque e vozes maravilhosos, o “somewhere i have never travelled” – http://www.poets.org/viewmedia.php/prmMID/15401

Blazing Saddles, Mel Brooks, 1974
Dentro dos filmes cómicos parvos este dá-me especial prazer por ver o racismo gozado de forma tão in-your-face. E tal como o Casablanca tem uma série de frases altamente quotable: “Oh baby you’re so smart and they are so dumb.” – diz o Xerife negro para ele próprio depois de enganar de forma demasiado fácil os racistas da aldeia. E agora que me lembrei que o Gene Wilder entre neste filme, percebi quem é que este miúdo novo, o Owen Wilson, me lembra. É aquele tipo de cómico que por mais disparates que faça tem uma tristeza no olhar que perplexa.

The Blues Brothers, Frank Oz, 1980
Mais uma vez, banda sonora fabulosa, e mais do que isso, participações especiais do Ray Charles, Aretha Franklin, James Brown, Cab Calloway que transformam este filme no meu musical favorito. Sim, porque não me venham lá com histórias, que isto é um musical ainda que cheio de
perseguições automóveis das mais estapafúrdias. Frase favorita: “We’re on a mission from God.


Rear Window, Alfred Hitchcock, 1954

Gosto muito que se consiga fazer um filme excitante só olhando para as traseiras de um prédio. Faz-me lembrar a minha infância porque era capaz de passar horas à janela do prédio da minha avó que tinha umas traseiras muito movimentadas. Continuo a achar que as escadas de incêndio que há nos prédios mais antigos são essenciais ao convívio da vizinhança. E faz-me confusão que já não se chame traseiras e já não se façam “pátios” nem jardins. deve ser por causa das garagens. Detesto a palavra logradouro. Aliás, imagino sempre que a tradução portuguesa devia ser “Crime no Logradouro”.

Here’s looking at you, kid.

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