É com pesar que vejo certas tendências a fazerem escola com o beneplácito das argoladas de gestão política (e talvez mais qualquer coisa) por parte do executivo em vigor.

Vejam-se a este propósito dois comentários relevados com toda a propriedade pelo Paulo Gorjão, de Manuel António Pina ("O feitiço contra o feiticeiro") e Graça Franco ("O aviso"), bem como a concertação europeia mais que evidente para o "downgrade" fictício da importância do tratado não constitucional que aí vem ("O referendo (X)") – tudo para que não se referende.

Felizmente, fico também convencido que há um bocadinho, pequenino em termos de visibilidade, mas nada irrelevante, de PS que existe para além desta precocemente envelhecida maioria absoluta e que vai dando alguma esperança de que no futuro este partido não caia de quatro oferecendo o triste espectáculo de absoluta falta de golpe de asa e de rumo que o PSD ainda vai demonstrando.

Apesar dos preocupantes sintomas de afunilamento do método de governação, não é ainda definitivo o veredicto deste governo (haverá ainda muito por onde recuperar o fôlego e o país, com unhas, naturalmente). Esta outra preocupação com o futuro mais longínquo pode, ironicamente, resolver alguns dos problemas concretos do dia-a-dia. Como sustentar a crítica de absolutismo e do controlo máximo se dentro do partido que sustenta o governo sairem sinais claros e evidentes de que há limites cuja ultrapassagem não pode ser sistematicamente justificada pelo pragmatísmo político e a a luta pela sobrevivência política de curto prazo (de algum ministro, para já)?

Parece, parece, que o futuro do PS, uma alternativa a Sócrates, continuará a tentar caminhar pelos exemplos de sucesso do passado recente (corporizados por Durão Barroso e José Sócrates): o silêncio estratégico é a alma do negócio. Infelizmente, sempre estive convencido que a estratégia deveria ser diversa e ter alguns reflexos externos ao partido num exercício complicado balizado pela necessidade de lealdade partidária mas também pela absoluta necessidade de ir oferecendo crítica construtiva, pontualmente diversa das políticas do executivo. Uma prática que fosse abrindo a porta, deixando claro que há uma variante, uma oferta diferente que poderá apresentar-se como consequência de um pensamento político estruturado mais do que como um acaso determinado por algum PM que foge do pantano ou outro que se muda para Bruxelas.

Quando penso em alternativas, os apoiantes que me perdoem, não penso na velha guarda e nos suspeitos do costume que mal ou bem vão fazendo o seu papel. Espero que haja por aí alguém com um caderninho na mão a tomar notas e a fazer o curso e espero também que entre no percurso antes da última hora pedindo mais que cheques em branco. O tempo para isso não é só determinado pelo calendário eleitoral e pelos resultados nas sondagens, deveria ser também determinado pela memória do passado e pelos sinais dos tempos que se avolumam e que permitem perspectivar um pouco o futuro próximo.

Discover more from Adufe.net

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading