Porque nada do que antes tiveram deixaram de ter
Estavam num cadeirão largo forrado com almofadas creme. Ele sentado, de fato azul, talvez de seda, impecavelmente engomado. Ela quase deitada, com a cabeça aninhada no ombro dele, embrulhada num xaile cor de pérola.
Olhavam a noite da cidade, com a vista que se tem dos telhados. A espaços ele sussurrava e ambos riam com igual discrição. Esperavam pelo acender e apagar das luzes dos vizinhos como antes esperaram os traços de luz a atravessar o firmamento.
Antes, no tempo em que ele não usava fatos e ela ainda não descobrira aquele ombro, quando a cidade não existia, a solidão oferecia-lhes palavras, melodias, sensibilidades. Era generosa. Uma dor boa que transformavam, cada um à sua maneira, em antecipação rosada.
Depois, quando ela finalmente descobriu o seu ombro, houve um tempo em que embruteceram para o mundo, desperdiçando-se por entre essências.
Hoje, neste momento, agora, estão de novo no terraço, encontrando magia nas luzes dos pirilampos da cidade. Ele está a esticar o braço… com cautela para não a acordar.
Apagou a fraca luz de presença. Que disse?…
Boa noite.
May 4th, 2006 at 11:39 pm
Baixinho que não a quero acordar, Boa noite
May 4th, 2006 at 11:57 pm
Boa noite.
May 5th, 2006 at 12:55 am
assim mesmo … no meio da noite … sempre à espera de uma resposta, de um sinal, da intimidade de uma esperança !