Leia-se esta notícia* que começa assim:

"Assaltante de 22 anos abatido por agente da PSP

Um jovem de 22 anos foi morto a tiro na madrugada de ontem por um agente da PSP de Viseu na sequência de um assalto que ocorreu em pleno centro da cidade. Um segundo assaltante, de 27 anos, ficou ferido na fuga e outro foi capturado pela polícia. O caso está já a ser investigado pela Polícia Judiciária."

Agora digam-me porque é que o "alegadamente" me veio à cabeça?

Quando é que um jornalista deve usar o alegadamente? Sempre? Às vezes? Convinha que soubéssemos explicitamente qual é a regra (ainda que ela possa resultar em aplicações difusas). Eu detesto o "alegadamente" porque parece ser usado apenas em alguns casos-notícia e, ao sê-lo, atribui por isso uma espécie de dúvida específica ao alcance apenas desses casos específicos (recordo, por exemplo, o caso "Casa Pia") sem que, contudo, o jornalista fundamente as eventuais dúvidas, apresente frutos de uma investigação, etc. Parece-me também que, após os primeiros tempo do caso "Casa Pia" o alegadamente virou moda. Estará por ventura a esfriar…

Nesta notícia o jornalista não terá tido dúvidas de que houve um assalto, de que os assaltantes foram identificados sem margem para dúvida e de que foi um agente da PSP que baleou um dos assaltantes. Ou, em alternativa o jornalista assumiu que o leitor é inteligente e que sabe que se é sempre inocente até alegações provadas em contrário. Em que ficamos?

* A notícia em concreto e o jornalista em concreto interessam muito pouco para o caso, como é óbvio. Servem apenas de exemplo para esplanar a dúvida. 

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