• Algumas das reacções que leio por esta e outras esferas fazem-me lembrar história curiosas que fui coleccionando durante uns anos. Por exemplo, aquela falcatrua eleitoral onde perante a necessidade de umas eleições terem quorum para serem vinculativas, houve tentativas de aliciamento às mesas eleitoraias para que se pusessem os abstencionistas crónicos a votar na lista única. Ou aquela outra história em que, após uma derrota eleitoral, os últimos dias do poder deposto foram gastos a infectar os computadores do "governo" e a destruir cópias de contratos de modo a tornarem a tarefa dos senhores que se seguiriam muito mais árdua… Ou ainda aquela em que, de novo junto dos computadores, alguém se divertiu a arrancar de cada teclado as teclas que representavam as letras necessárias para formar a sigla do partido vencedor. Coisas de putos, de associações de estudantes.
  • Onde andam hoje essas crianças? Que lhes ensinavam nas jotas que tantos frequentavam? Alguns são políticos e continuam a fazer mais ou menos as mesmas coisas conforme perdem ou ganham as eleições, outros, poucos, terão crescido e superado os exemplos que tinham. Mas os que vejo (e outros que com eles identifico) acumulam rancores, patrocinam vinganças, destroem com maior dano o que não lhes pertence e vão passando sempre ao lado do essencial: da nobreza da coisa à perspectiva histórica intrínseca à política passando pelo objectivo de produzir soluções eficazes para os problemas comunitários.
  • Estou genuinamente feliz por não ter ficado em casa ontem e por ter votado em quem votei. Perder, pertencer a uma minoria após um sufrágio, não me deixa minimamente agastado por mais desforço que tentem assacar ou ressabiamento que (me) tentem atribuir. Gostaria de ter ganho e por isso estou triste, convencido de que não se escolheu o que é melhor para o país. Mas apenas e só isso. A tragédia, se existe, está entre aqueles que não conseguem perceber isso e vão atrapalhando a democracia, infectando alguma alma mais mal formada para que responda, à primeira oportunidade, na mesmíssima moeda.
  • Sob a capa superfícial, sob o maior ou menor profissionalismo da construção de imagem, pulsa ainda nos partidos esta espiral esquizofrénica de "combatividade", uma combatividade hereditária, sustentada, quanto muito, nas palavras mal compreendidas de um credo aprendido de cor, como uma ladainha.
  • Há então uma pulsão que determina a forma de muita gente dos partidos encarar tudo o que lhes é exterior. Mas esta agenda cada vez mais desenraizada de qualquer suporte interessa cada vez menos a quem está de fora e resume cada vez mais o contributo actual dos partidos que temos.
  • As soluções andam aí à espera de brotarem da boca de alguém que se consiga fazer ouvir. E esta última frase, encerra em si inúmeros problemas, imensos desafios, assustadoras barreiras. O primeiro passo é contudo este de identificação, o tradicional pôr o dedo nas feridas em busca dos corpos estranhos.
  • A ler também este texto do Carlos

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