Em Fevereiro/Março, quando o PS e Sócrates conseguiram a maioria absoluta, o indicador de confiança dos consumidores recuperou num mês (e nos dois seguintes, ver aqui também) o que perderam em mais de três anos.

Poucos meses depois, a situação quase regressou ao ponto de partida. A malta, perdão, os consumidores, lá perceberam o que é que quer dizer "problema estrutural", afinal, o mal e o remédio amargo não desapareceram com a mudança de côr política do governo. Não sei bem se perceberam que se safaram dos males maiores para os quais o anterior governo os arrastava (as 5 linhas de TGV, aqui e já, lembram-se?) mas talvez sim.

Agora, Anival Cavaco Silva, virtual Presidente da República e ex-primeiro ministro de três governos constitucionais, advoga que a sua vitória nas próximas eleições presidenciais será a única forma deste país aproveitar a última oportunidade que terá de recuperar a confiança em si, num horizonte de vários anos. Não diz como, nem porque, apenas assegura que assim será.

Se calhar os níveis de confiança subirão de novo em Janeiro/Fevereiro e meses seguintes até que os portugueses recordem de novo o que é um "problema estrutural" e como sabe e tem de saber (mal) o remédio, seja qual for o presidente.

Na melhor das hipótese Cavaco Silva permanecerá mudo e quedo, como na campanha, não se comprometendo com nada e ninguém (deixando a cada um projectar nele aquilo que deseja que ele seja) resguardando-se para um segunda mandato, na pior da hipóteses Cavaco Silva será apenas aquilo que quiser, sendo ele próprio, como foi antes, em São Bento, jogando, talvez, na corrosão da actual maioria absoluta, sendo aquilo que um PR não pode ser, em Portugal.

Talvez aí, uns meses depois das presidenciais, os portugueses percebam que ao remédio amargo que têm de continuar a tomar, terão de juntar outro para resolver outro problema estrutural de natureza política, o da governabilidade. Essa doce forma que os políticos têm de alijar responsabilidades de forma recorrente, quase imperceptível, que tem levado o país de aventureirismo em diante, até ao seguinte.

Em ambas as situações, Cavaco Silva, apesar de mal abrir a boca, (dizendo apenas: sou eu a esperança!) está no negócio da banha da cobra, enganado os incautos e os órfãos e enxovalhados de diversos partidos. O que julgo certo, é que nenhum dos políticos em campanha tem estofo, por si, para incutir confiança de forma continuada nos portugueses. Em termos genéricos, o Presidente da República poderá, quando muito, minimizar danos, impedir que se caia na fossa (caso ainda não se estivesse nela), mas não será nenhum destes senhores que nos tirará dela. Esse tipo de homens por que alguns parecem ansear, despotas iluminados de boa feição, são verdadeiramente raros e, provavelmente, passariam despercebidos no regime semi-presidencialista português. Essa mirífica solução, não é sequer um caminho disponível para este país, recentemente saído de uma ditadura.

Ninguém, além de Cavaco, vende confiança em frasquinhos individuais. É mais isso que temos a perder, se ele ganhar.

P.S.: E, já agora, antes de votar, tome uns comprimidos para a memória, vai ver que não se arrepende.

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