Há um ror de trabalho pela frente se tentarmos seguir estas linhas (ver post anterior) ou outras próximas destas. A actual conjuntura do INE caracteriza-se entre outros por:

  • Crise ao nível da política de recursos humanos:
    • Além da perda de virtualmente todos os técnicos com menos de 30 anos (por não renovação de contrato ou fuga para o privado/estado) sublinho o bloqueamento, há vários anos, das progressões nas carreiras que têm convivido com sucessivas experiências-protótipo, frustradas e frustrantes, de novos métodos de avaliação de desempenho (com mais do que uma versão ao longo de cada exercício);
    • Sublinho ainda a inexistência de um plano de formação generalizado menos que ridículo, pelo menos nos últimos 7 anos (desde que entrei para o INE). A manutenção da competência técnica, por cá, ou parte da teimosia dos quadros (e geralmente do seu bolso), ou cai do céu e, pelo que acima foi descrito, não tem qualquer estímulo prático em termos de carreira há vários anos. Critica-se fundamentalmente a ausência de um plano de formação.
    • O INE tem uma das mais modestas tabelas salariais no universo dos Institutos Públicos – compará-las com a prática do Banco de Portugal ou mesmo da função pública (com os nossos pares no Ministério das Finanças, por exemplo) é um exercício de humor negro para quem está no INE, mas ainda assim, de humor;
    • Como símbolo de modernidade e para que conste, temos uma das mais “lustrosas medalhas” da administração pública da velha guarda (o INE tem 70 anos): a absoluta ausência de “funcionários públicos” no quadro… Por outras palavras, aquilo que será a prática generalizada na função pública em 2007, está a ser implementado no INE desde 1989: aqui só entra menino ou menina com contrato individual de trabalho (CIT). Sublinhe-se que, quem era da função pública e quis permanecer no INE, teve de mudar para o CIT. É bem verdade que a realidade depois não correspondeu às expectativas criadas mas… é a vida!
  • Crise de saúde pública: é impressionante o volume de baixas por problemas psíquicos (à falta de melhor termo) que têm proliferado no INE, nos últimos anos; algo absolutamente anormal, é um facto;
  • Crise de gestão: para mais detalhes consultar o relatório dos canadianos e da Roland Berger;
  • Crise de rumo estratégico: reconhecido implicitamente nas declarações de sucessivos governantes.

A conjuntura actual do Estado, sem condições para poder resolver com dinheiro os problemas que dependem em boa parte da falta dele, bem como a tradição de incumprimento das sucessivas tutelas, não augura anos muito fáceis para o INE, mas se o mal for bem distribuído pelas aldeias, o INE está seguramente entre as instituições que tem mais a ganhar do que a perder no processo de redistribuição (e redução) da despesa pública. Pessoalmente acho também que é das organizações da administração pública com maior capacidade de gerar valor acrescentado para o pais, mas… eu sou suspeito.

Como nota positiva: nem tudo depende do dinheiro e como já aqui disse há algum tempo, não há-de ser difícil à futura direcção, fazer melhor, assim a tutela o permita bem como o engenho e arte dos novos actores.

Como nota final: tinha muita piada esta direcção conseguir terminar o mandato, por exemplo. E mais piada ainda teria se a próxima já entrasse com um estatuto do INE mais blindado à intervenção política. Talvez até com mandatos ligeiramente superiores a uma legislatura, por exemplo. Enfim, já divago. Passem bem.

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