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Por vezes, para ridicularizar a ópera, diz-se que é aquele espectáculo em que conseguem por uma personagem a dizer que está morta durante uma peça inteira. Mas há também a outra imagem, igualmente caricatural, de ser aquele espectáculo onde todos espantam os seus males recorrendo aos melhores instrumentos vocais que há à face da terra.

Ópera é hiperbole? O futebol também pode ser, ainda que seja um seu estado particular. Uma excepção tem acontecido em Alvalade, onde a hiperbole reina há largos meses.

Neste último ano e meio têm havido sucessivas doses de exagero. Raríssimo foi o jogo em que o sofrimento do adepto não se prolongasse até ao último minuto. Naquela sala de espetáculos são os adeptos que cantam, são quem leva os adereços e compôem o cenário, são eles que, feridos, agitam a mortalha branca num último estertor que se tem repetido em cada nova exibição para o mesmo desfecho.

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Hoje, tudo está preparado para um monumental finale: o melhor na defesa foi operado, a capitão de equipa agrediu indevidamente um capitaneado (e vai jogar), a baliza será entregue a um protector inseguro, algumas nódoas do ano passado tiveram de ser repescadas sem melhores garantias, o maior goleador ameaça estar de trombas…e os adeptos apetrecham-se de alvas mortalhas e canoros carpimentos.

O que é mais espantoso é que, no final, se os astros surpreenderem positivamente, o público poderá sempre levantar-se a bater palmas de pé, com lágrimas nos olhos.

Assim haja cantores nas bancadas e brilho no firmamento.

Só eu sei porque não fico em casa.