Da pouca imprensa que consegui ler destaco o editorial de hoje de Sérgio Figueiredo no Jornal de Negócios. Passa por alguns pontos já aqui sublinhados. A repetição parece-me oportuna e a “auto-crítica” à “classe” também me parece muito saudável. Aqui fica.

O debate está lançado, mas nós continuamos a insistir na loucura colectiva. Os desafios do país são tremendos – toda a gente está de acordo e repete isso à exaustão. Os partidos colocaram na rua as soluções que advogam para os problemas identificados – e, desta vez, até produziram programas eleitorais interessantes e com utilidade.

Mas, no meio de tanta prioridade, perante tantas ideias, qual é, então, a magna pendência que a pátria decidiu colocar no topo da agenda?

Não é fácil digerir milhares de promessas, escritas em centenas de páginas, dois programas que, num curto espaço de 24 horas, os principais partidos apresentaram aos portugueses. Mas é esse a nossa função na sociedade: digerir, intermediar a relação entre eleitos e eleitores. Uma função que tem tanto de controverso quanto de insubstituível. Somos sempre um filtro. Isso não é uma penitência, mas um privilégio. O que nos obriga a carregar uma pesada responsabilidade.

É por isso muito frustrante, no próprio dia em que o PSD mostrava seus trunfos, ver Santana divagar dez minutos sobre os desmaios no discurso da tomada de posse e mais dez a filosofar sobre as partes em que se divide a laranja.

Num dos melhores programas de informação na TV, o Expresso da Meia-Noite. E a pedido do director do principal jornal português. Ou seja, quando devemos estar preocupados com o essencial para o futuro, «la crème de la crème» dos nossos políticos e jornalistas ficam presos a inutilidades do passado. No lugar de discutir o país, ocupam-se a debater o partido.

Ontem, depois do pó assentar, havia que questionar. Fazer muitas perguntas. Exigir explicações. Perguntar como fazer, quando fazer e, sobretudo, com quanto para fazer. Mas Santana aperta Sócrates, vinga-se de Sampaio e os fóruns vão atrás: os frente-a-frente televisivos, como tema do dia.

É muito importante provocar o maior debate possível entre candidatos. A televisão é, sem dúvida, o meio que massifica a informação, chega às multidões. Mais debate, melhor democracia. Só vale a pena alimentar polémica em torno do primeiro em nome da segunda. Muita gente esquece com facilidade isto, que é uma trivialidade.

Pois enquanto se trata o debate pelo debate, enquanto o assunto ficar entre políticos e jornalistas, a população não entende… e, o que é pior, não fica realmente esclarecida.

Enquanto todos defendem a consolidação orçamental, enquanto prometem não subir impostos, controlar o défice, há que fazer perguntas. É nossa obrigação. Também um privilégio.

Manuel Pinho não explica as receitas extraordinárias que o PS vai inventar. António Mexia não apresenta a fórmula matemática para o salto de produtividade. Porquê? Para quê? Com quê? Repetir até à exaustão, até 20 de Fevereiro, até obter respostas. As contas públicas são um assunto demasiado sério para propaganda eleitoral.

Salários e pensões da função pública, cerca de 30% da despesa do Estado. 40% são transferências, sobretudo para a segurança social. 10% é investimento. Outro tanto é consumo público. Juros da República têm peso residual. O próximo Governo vai cortar alguma coisa. Os partidos têm agora de dizer onde.

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