Lendo na diagonal alguns dos comentários em relação ao último debate entre Bush e Kerry (CNN, Yahoo…) encontro críticas costumeiras que julgo merecerem alguma reflexão. Destaco um exemplo, a questão do aborto.
Este é apresentado como um dos casos em que Bush se saiu melhor porque foi incisivo e claro na sua opinião – defende a proibição total, se bem percebi – enquanto Kerry foi palavroso, explicativo e terá ficado atrás nessa parte do debate por isso mesmo – afirmou-se católico mas não “o suficiente” para impôr pela força do Estado os seus preceitos religiosos ao resto da população exemplificando com casos limites como as violações dos filhos pelos pais e por aí fora.

Pensando neste caso e olhando para o exemplo caricatural da questão da guerra, representada neste boneco que vêmos no Blasfémias, lembro-me da simplicidade das turbas linchadoras ou da complexidade do exercício da justiça.
A águia e a pomba são ridicularizadas por pertencerem ao esquema racional de John Kerry quanto à questão da guerra no iraque. Ora isto não é tal e qual ridicularizar a figura da justiça: uma senhora vendada empunhando numa mão a espada noutra a balança?
É espantoso centrar-se a crítica a Kerry na sua eventual esquisofrenia quando todos os pressupostos justificativos da guerra, sabemo-lo hoje, se provaram errados. Não é nessa prova que Kerry fundamenta a sua opinião actual mas estas evidências, agora irrefutáveis, deviam ao menos embaraçar um pouco mais as águias da guerra. Contudo, é com gente deste calibre que temos de saber lidar, sem nos rendermos alegremente às mesmas tácticas. Tough job!

Imagem de Cox&ForKum

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