É, caro João, também por aqui temos memória curta.
Se de repente tivessemos quatro Marcelos (ou Luises Delgados), um em cada canal, com direito ao prime-time, sem mais refutação que um direito de resposta feito por algum texto passado no final dos telejornais em jeito de nota-de-roda-pé (ou mesmo que fossem artigos de jornal ou programas de rádio) estariamos enquadrados pelo livre arbítrio das opções editoriais das respectivas redacçãos e, contudo, não estaria tudo demasiado viciado e enviesado?

Pela minha parte, acho divertidíssima esta reacção do círculo próximo de Santana Lopes mas não consigo evitar sentir alguns pruridos em disparar todo o arsenal contra Rui Gomes da Silva (bem como, em defende-lo com todas as forças).

Politicamente a reacção de Rui Gomes da Silva / Santana Lopes, pela originalidade de se tratar de uma batalha entre afins, é um desastre. E é-o também pela mistura de argumentos a roçar o ridículo – o ódio! o ódio! – mas também porque os senhores não se podem propriamente queixar de não ter acesso a meios iguais, ou ainda mais poderosos, para se defenderem – é ver o impacto da própria reacção.
Indo um pouco além deste caso, consigo imaginar perigos abstractos perante a total liberdade ou desregulação dos critérios editoriais – que, como o João recorda ao citar a lei, não é o enquadramento legal português.
Há aspectos como a proporcionalidade do impacto associado ao meio TV, a continuidade no tempo e a exclusividade da opinião nesse espaço desse orgão de comunicação que merecem algumas cautelas antes de ridicularizarmos os argumentos de Rui Gomes da Silva. É como se devesse existir um alerta para situações de anti-jogo.
Outros aspectos relevantes para denotar a especificidade da opinião televisiva, além do impacto muito peculiar do próprio meio, prendem-se com as fortes limitações de acesso ao espectro televisivo, quer pelos fortes condicionamentos económicos – é caríssimo montar um canal de TV -, quer pelas limitações legais que autorizam apenas a existência de quatro canais em canal aberto.

Repito a pergunta implícita no que escreveu o João: cadê o tal incentivo à “(…) criação de hábitos de convivência cívica própria de um Estado democrático e [contribuição] para o pluralismo político, social e cultural.(…)” que faz parte do contrato de concessão das televisões?

Ou seja, o problema não será a opinião de Marcelo Rebelo de Sousa e o espaço que lhe é dedicado mas antes a ausência habitual de mais “qualquer coisa”.

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