Concordo largamente com o que escreves, Nelson (Marcelo, Marcelo, Marcelo).
E o teu texto remete-me para uma outra questão.

Há algumas horas o Franscisco José Viegas a propósito das ideias do reitor da Católica em restringir o acesso dos meninos-alunos aos bares e discotecas para lhes melhorar o desempenho, para os proteger, pôs o dedo numa ferida (Proibições e Paternalismo) – então e a responsabilização os alunos, coitadinhos?

Tratá-los como crescidinhos, por vezes é a melhor solução e a melhor forma de os educar. Algo incompatível com a simplicidade de mentalidade do senhor reitor.
A que vem isto a propósito, face ao texto do Nelson? A propósito do eleitor ou do abstencionista.
Centramo-nos muito, e bem, na denúncia do mau político. É ele que se propõe ser nosso representante, ou pelo menos daqueles que nele votaram. Talvez venhamos ainda a discutir porque é tão fácil entrar num partido. Porque é que a inscrição é tão acrítica. Porque é que no PRD, no PS, no PP e no PSD se admitiram e admitem as enxurradas de militantes que batem à porta quando cheira a poder.
Mas o pretexto do Nelson leva-me ao politicamente incorrecto: então e a responsabilização dos eleitores?

É também o sentimento de co-responsabilidade que me leva pensar sobre política e a vir aqui expor-me. O caríssimo eleitor, abstencionista, coisa-que-o-valha, faz demasiadas vezes o papel de “aluno” sedento por neuro-estimulantes que está à espera do reitor para o proteger, cortando-lhe a ração ou servindo-lhe um substituto inócuo, qual metadona.
Profilaxia desadequada, creio eu, quando pensamos em cidadãos livres sem doença diagnosticada.

São os eleitores que não têm a desculpa da fraca educação, das menores oportunidades ou mesmo da falta de disponibilidade – ocupados com a sua sobrevivência física, por exemplo – que merecem mais justamente uma quota-parte da responsabilidade sobre aquilo que se denuncia e que nos trouxe à situação em que estamos.
Os desistentes, os cínicos crónicos, os vencidos da vida que algum dia tiveram o entendimento do que é a Democracia não podem desresponsabilizar-se, nem desculpar-se com contributos passados.

Há um mínimo de acção, mais que não seja a atenção e o exercício da crítica ou a capacidade de avaliação do que lhes é proposto que se deve manter, sempre. Isto sob pena de serem eles a fechar qualquer réstia de esperança em se retomar uma fase boa do ciclo na nossa vida colectiva.
Por mais iguais que fossem as armas entre duas forças opostas, uma incumbente outra desafiante, se os eleitores não estiverem atentos que hipóteses terá quem de novo se apresenta?

Eu nunca desempenhei esse papel conscientemente desde que me conheço e quero conservar-me assim por muitos e bons anos. Quero até tentar mais qualquer coisa pelo que se vê ou vir aqui chatear quem me lê.
Ter consciência política, perseguir alguma coerência (nem que seja na mudança de pensamento) exige “qualquer coisa de nósâ€?, mas como viver sem isso? Ou como conviver reduzindo o exercício apenas e só à crítica destrutiva, à generalização demolidora da auto-nivelação por baixo? Nestes dias em que as más políticas internas têm batido à porta de um número significativo de portugueses, acho que é mais fácil perceber a bondade do meu argumento.

Dito isto, tamb̩m ṇo quero ser exclusivamente governado por algum senhor reitor Рchamemos-lhe Sound bite? Aceito que tudo tem o seu lugar em doses moderadas, at̩ o sound bite quando usado para espevitar a aten̤̣o. O problema surge quando a aten̤̣o se resume a ele. Ouvir o reitor e pensar na proposta dele ṇo ̩ algo que me assuste. Acenar positivamente e fazer coro sem nos lembrarmos de alternativas tentando antecipar causas e efeitos ̩ que ̩ grave.
O eleitor não existe para ter sempre “razão”. E quem pensa a política não tem qualquer hipótese de mudar seja o que for se não “puxarâ€? por ele. Sem puxar por nós.

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