Aldraba em Ã?vila - Agosto de 2004
Segue mais um interessante texto e as simpáticas palavras que o Luis Filipe Maçarico nos deixou (ao Adufe e demais leitores) sobre as aldrabas. A acompanha-lo fiquem com a última aldraba espanhola da colecção das férias de 2004. A mais delicada mão que vi até hoje…

“Caro Amigo:
Obrigado pela publicação do texto que lhe enviei e antes de ir até ao sul, deixo aqui mais uma achega, retirada do tal artigo “A Função Antropológica da Aldraba”, de minha autoria. Abraço do LFM”

CARACTERIZAÇÃO ETIMOLÓGICA DA ALDRABA

No seu “Vocabulário Português de Origem Ã?rabeâ€?, José Pedro Machado diz que esta palavra- aldraba- vem do árabe «Ad-Dabbâ» e define-a como “trinco, lingueta, ferrolho.â€?

Noutra obra do mesmo autor (“Dicionário Etimológico da Língua Portuguesaâ€?), constata-se que aldraba, aldrava, são termos citados em documentos do século XV, aparecendo este exemplo, em 1456: “… e armelhas pera as ditas portas e por aldrabas para as ganellas…â€?

Num dicionário, encontramos esta caracterização: “tranqueta de ferro com que se fecha a porta; peça metálica para bater às portas.â€?

Noutro, descreve-se o objecto e a sua utilidade. A aldrava (sinónimo de aldraba), será então: “Peça de ferro, na parte anterior de uma porta, servindo para bater nesta, a fim de chamar a atenção de quem está dentro, e para erguer a tranqueta que segura a porta do lado posterior.â€?

Ainda noutro, trata-se de “peça de ferro, em forma de argola ou martelo, para bater, abrir ou fechar portas.â€?

O próprio “dicionário da construçãoâ€?, consultável na Internet, remete-nos para a ideia de uma “argola que fica do lado de fora da porta e serve de instrumento para bater à portaâ€?

Todavia, é na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira que encontramos a melhor e mais completa descrição:
“Argola fixa por uma extremidade na parte anterior das portas, a qual serve para bater nesta e para levantar a tranqueta que segura a porta do lado posterior (…) Peça de ferro ou de bronze, de formas diversas, móvel na parte superior e terminando inferiormente em martelo, que se fixa na face anterior das portas, e que se levanta e deixa cair sobre uma espera de ferro, quando se quer bater à porta. (…) Ferragem para fechar por dentro portas e postigos, formada por arame de ferro revirado em gancho dum lado e do outro articulado numa argola, ou ponto fixo; o gancho entra numa argola fixa ao arco da porta.â€?

DIFERENÇA ENTRE ALDRABA, BATENTE E PUXADOR

Num artigo publicado no Jornal do Fundão,escrevi que “adoptando o contorno em tamanho real das costas de uma mão fechada, moldada certamente pelos velhos ferreiros, e apresentando forma triangular arredondada, aberta ao meio, este instrumento, diferente dos batentes, cuja representação naturalista da mão exibe uma tendência miniatural, destacava-se pela dupla funcionalidade de anunciar, através de sonoridade distinta, as diversas visitas e preservar a residência, pois também exercia as funções de ferrolho.â€?

Em “As Aldrabas de Lisbuna,â€? acrescentei que “a confusão manifesta-se mesmo nos dicionários. Todavia, a aldraba executa tarefas que o batente está impedido de fazer, pois serve também de “trinco, lingueta, ferrolho,â€? dado que é “móvel na parte superior.â€?

O puxador, como o nome indica, é uma peça de madeira ou metal, que se puxa, para abrir portas… podendo ter a forma de uma maçã, daí, a designação de maçaneta, a qual servirá para assinalar este “ornato globular.â€?

Nas últimas décadas, o avanço daquele objecto, sobre aldrabas e batentes, geralmente associado ao aparecimento das portas de alumínio, levou homens como Joaquim Palminha da Silva, a defender o “compromisso premente da conservação das antigas portas, porque elas se relacionam com a nossa cultura ao nível dos valores e atitudes, empenhamento e atenção que se deve dar ao passado, enquanto vestígio de um tempo não afectado pela descaracterização e desumanização actuais.Tempo sensível, portanto aos registos pessoais dos artistas que, na sua própria época, partiram em busca de originalidade num cenário de necessidades práticas, criando parte da riqueza cultural e material (…) Se não existem leis nem regulamentos municipais sobre esta matéria, urge redigi-los e pô-los em acção!â€?

Espero que este contributo sirva para enriquecer o conhecimento de todos os amigos que consultam o “Adufe” acerca destes materiais e que sobretudo se crie uma associação (porque não?) para a defesa deste património. Contem comigo!!!
E já agora um grande aplauso para a bela partilha dos exemplares de Cáceres e Monsaraz, entre outros. Já difundi a colegas e amigos o seu gesto de os partilhar para delícia dos olhos. Por causa deste seu interesse pelas aldrabas tem-me como leitor assíduo e colaborador entusiasmado.Obrigado por tudo!
Luís Filipe Maçarico

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