Floresta – Um bocadinho de descrença e uma ideia para amanhã II/II
II
Há anos que a situação de desequilíbrio negocial se mantem em Penamacor-Benquerença e não surge ninguém, nenhuma mão invisível feita empresário que se aperceba do lucro a partilhar que existe pelas terras raianas – fica a dica para algum interessado!
Os produtores florestais envelhecem, os herdeiros raramente se interessam e a exploração das serras quando é feita resume-se à actividade melhor organizada e fornecedora das melhores rentabilidades no mais curto espaço de tempo.
Premissas como a sustentabilidade do ecossistema, do próprio negócio a médio prazo e o desenvolvimento de uma política de fixação de população – repovoamento do interior – não são interiorizadas no modelo económico vigente. Algo que é cada vez menos um modelo para se resumir a uma monocultura controlada à distância.
A cultura definha, a memória desaparece, o país descaracteriza-se.
O problema é complexo mas não irreversível.
Permitir cegamente a exploração que se vai fazendo do interior-centro do país sem ordenar o território (e implementar esse ordenamento) e sem integrar a pouca massa crítica humana que ainda subsiste em algumas zonas é reforçar uma oportunidade de negócio para muito poucos que, tal como o eucalipto, vai contribuindo para secar tudo em sua volta seguindo a prazo para outras paragens fruto da habitual terra queimada.
Tudo seria mais simples se houvesse por aquelas terras outra gente, sem medo do trabalho e sem almejar a todo o custo o lucro fácil, o fruto do subsídio. Há poucos, muito poucos empreendedores dignos desse nome na parte nascente da cova da beira tendo profilerado durante os últimos 15 anos bons “aproveitadores” de subsídios. As histórias de abusos de fundos públicos multiplicaram-se e são conhecidos por toda a região.
Mas o maior de todos que por lá vamos vendo é talvez o mais antigo projecto de investimento público (irregadio + emparcelamento) que permanece por concluir à décadas.
Tudo seria mais simples de houvesse lá e cá mais gente que podesse dizer que amava a sua terra. Talvez em Castro Daire haja ainda um pouco mais de amor pela serra. Viver no meio dela dá certamente uma ajuda.
A investigação de campo em busca de mais e melhor informação segue dentro de alguns dias.
July 30th, 2004 at 12:49 pm
Rui, gostei muito destes seus dois ‘posts’. Na minha opinião, fruto dos inúmeros fogos que têm avassalado a floresta portuguesa é necessário tentar tudo por tudo para fixar as populações no interior e mudar o tipo de arvoredo das nossas florestas (apostar nas árvores de combustão lenta, como sejam os carvalhos, cujas matas foram consideradas, desde sempre, como verdadeiros ‘corta fogos’). Com estes dois objectivos alcançados o terceiro que seria a limpeza viria por si. A floresta é um organismo vivo precisa de tempo e não se coaduna com políticas de lucros fáceis e imediatos.
A ideia que tenho (não sei se estou correcto) é que o tipo de floresta em que se apostou (essencialmente de eucaliptos e pinheiros) não dá a quantidade e qualidade de empregos que as pessoas precisam.
July 30th, 2004 at 12:59 pm
O “easy living” que se instala e o desaparecimento dos agricultores que têm verdadeiro amor à terra gera tudo isso. Acho muito difícil inverter esta tendência. As terras têm de ter algumas condições de sustentabilidade para que não fuja tudo para paragens aparentemente menores.
July 30th, 2004 at 1:00 pm
queria dizer melhores…