I

Há muito pouco tempo aprecei o metro quadrado na Serra de Santa Marta – freguesia de Benquerença concelho de Penamacor.
A melhor – e única oferta que tive – numa serra que está neste momento em plena produção de pinheiros e eucaliptos foi de 6 cêntimos.
Quem compra? O único madeireiro do norte do concelho que encontrei e que me foi referenciado na aldeia. O mesmo que é o entreposto habitual da grande celulose, a maior proprietária/exploradora florestal do concelho.

Com estes preços e havendo oferta – herdeiros citadinos como eu, talvez – parece difícil não estarmos perante um negócio rentável. Teoricamente com poucos milhares de Euros compra-se um serra. Com um investimento a médio prazo e uma política de plantio faseada – que julgo estar a ser implementada – é fácil manter um negócio estável.

Outro preço que tentei apurar foi o preço de compra/venda das árvores. O interlocutor é o mesmo conterrâneo que no natural interesse do seu negócio tenta comprar pinheiros e eucaliptos ao melhor preço. Descobri que as árvores são vendidas a olho, por parcela.
Subo uns quilómetros até Castro Daire e o negócio – as mesmas árvores com porte idêntico – é determinado ao toro antes do abate. Cada árvore, depedendo do diâmetro e prumo, é apreçada diferenciadamente. Chega-se a vender um único pinheiro atingindo 25, 30 euros ou mesmo um pouco mais tratando-se de árvores exemplares. Há mais compradores e mais produtores activos em Castro Daire.
Escusado será dizer que é muito mais vantajoso fabricar madeira em Castro Daire do que em Penamacor da óptica do produtor. Mas em ambos os casos é muito raro ver-se a união de pequenos produtores em associações que lhes permitam incorporar uma maior parte da riqueza criada.
Nalguns casos bastaria o poder de comprar uma grua e o transporte adequado para a madeira… Curiosamente vejo uma serra menos vigiada e cuidada em algumas zonas do concelho de castro daire do que em Penamacor…

Em ambos os casos que conheço (ainda insuficentemente, é certo), há pouca esperança de sucesso duradouro para o modelo de exploração implementado, ainda que em Castro Daire a situação me parece mais sustentável, até pela melhor resistência à perda populacional. Não há dimensão crítica e não há sequer interlocutores privilegiados para se garantir a eficácia de uma eventual intervenção indicativa do Estado.

Acredito que qualquer reforma da tributação dos prédios rústicos ou agravará as desvantagens da monocultura do eucalipto e do pinheiro bravo ou obrigará o Estado a tomar nas mãos a propriedade de uma maior parcela da area “florestal” do país.
Muitos proprietários simplesmente se recusarão a pagar as tributações que se venham a fixar.

Nada disto terá de ser necessariamente mau, mas convém que haja a percepção por parte do legislador para a especificidade dos efeitos das suas medidas em algumas regiões do país.

(continua)

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