Escreveu o José Mário Silva no BdEII:

“Na noite de domingo, vários dos ensimesmados comentadores pró-governamentais brandiram, com um evidente brilhozinho nos olhos, os indicadores que apontam para uma recuperação da economia portuguesa. (…) Só que é preciso olhar com mais detalhe para os tais indicadores positivos. Se o fizermos, começamos por descobrir que o PIB cresceu realmente no primeiro trimestre, em relação ao mesmo período de 2003. Mas quanto? Preparem-se (rufar de tambores): 0,1%. Extraordinário, hem?
Acontece que o pior ainda está para vir. Na realidade, o valor de 0,1% foi o que avançou o governo, porque o verdadeiro (segundo as nossas fontes) não passou de 0,06%, tendo sido arredondado para cima pelas razões que se adivinham. (…)”

A propósito, seguem alguns comentários meus.
Os valores do PIB do 1º trimestre não são caso para deitar foguetes como é óbvio. E contrariamente ao que cheguei a ouvir na dita noite da eleições, o INE não declarou que a recessão acabou. Não tem sido bem esse o papel do INE. Produz informação com análise relativamente sumária. Outros, seguindo canones de análise internacional ou seguindo a cartilha da utilidade política de um qualquer partido que discutam animadamente os números que se querem isentos e tecnicamente válidos.
Dito isto passemos ao acessório. Não foi o governo que arredondou o número para cima. Pelo menos desta vez não foi preciso. O “número” foi arredondado para as décimas como SEMPRE foram os dados relativas às variações homólogas do PIB trimestral.
O “verdadeiro” número, que aliás qualquer um de nós pode apurar com base nos dados publicados pelo INE no seu site, foi: 0,057048989 se nos contentarmos com 9 casas decimais.
Repito, o arredondamento SEMPRE existiu. Não inventemos casos onde eles não existem. Infelizmente este governo, e a manipulação ou melhor, a instrumentalização que tem feito das estatísticas dão-nos “casos” bem mais evidentes e argumentos suficientes para lhes combatermos e desmascaramos o discurso.
A insinuação que o JMS faz, em última análise, põe em cheque o trabalho técnico do INE. Injustamente. A única defesa dos técnicos do INE é precisamente manterem alguma estabilidade nas técnicas, nomeadamente, não alterando os critérios de arredondamento dos números.
A arte da mudança dos critérios costuma morar mais para as bandas do Ministério das Finanças.

Com amizade.

P.S.: Para prevenir: recomendo que no dia em que virem uma mudança metodológica ou uma quebra de série, perguntem porquê antes de dispararem. Mas perguntem mesmo. Quem está neste ofício, prezando acima de tudo a isenção, agradece. Essa é a nossa principal defesa. Se dispararem antes de perguntar poderão estar a prestar um excelente serviço precisamente àqueles que querem atacar.

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