Ao Luís e ao Vale do Soure que comentaram três posts abaixo.

Não há ninguém no PS interessado em fazer o aggiornamento face à última experiência governativa ou todos acham que foi excelente?
Convenceram alguém de o ter feito no congresso de 2002 ou o objectivo era exclusivamente do foro da “vida interna do partidoâ€?? Entretanto, já foi feito?
Não, não foi feito. Levou-se a alma com a menor derrota eleitoral de sempre e legitimou-se o status quo interno com o esmagador cartão amarelo ao governo.
Eu fui dos que votou no PS com esperança que agora iríamos conseguir mais serenamente acabar os trabalhos de casa e não é esta crise que deverá desculpar o PS de os fazer caso se vá “jáâ€? a votos.

Se calhar é por isso, pela falta real do acto de contrição e interiorização das suas lições, por não se ter usado do adequado bisturi, que é fácil aos “inimigosâ€? do costume fazerem vingar essa sensação de instabilidade interna, utilizando os media que têm ao dispor.
Não é oportuno falar disso? Mas quando é que é? E onde é que é? Matéria reservada a congressistas talvez, ou conselheiros nacionais, não? A militantes?

Não estou por ninguém, até porque poucos criticam (alguns, e até aqui na blogoesfera) mas quase ninguém dá a cara assumindo uma alternativa interna, por isso não se iludam, a crítica está longe de ser feita apenas a Ferro Rodrigues – aliás é só passar por uns post mais abaixo…

A crítica a Ferro, melhor ou pior, está justificada nos textos. Lamento não começar como é da praxe com elogios ao visado para depois passar “ao ataque”; tenho-me poupado a esses maneirismos aqui no blogue, mas reconheço que há mérito no político e não estou certo se será menor do que têm outros que talvez se aproximem mais dos meus alinhamentos políticos… Mas daí a calar-me… Já que ninguém lhe faz oposição lá dentro que se veja cá fora… Confunde-se a minha vós com a dos “inimigosâ€?? Se eu me puser a pensar que manipulação é pior, prefiro aquela que me permite ser mais honesto comigo mesmo.

Era só o que nos faltava não poder fazer a crítica. E de caminho vou vendo que se está mais à vontade para a fazer cá fora.
Pobre do partido que após uma moção aprovada em congresso se tenha de fechar num casulo absoluto. Se as críticas forem disparatadas e frenéticas, “queima-se” quem as fizer (veja-se João Soares), ainda que nem sempre uma queimadela interna esteja em sintonia com uma queimadela externa (veja-se Marcelo Rebelo de Sousa) como nos vai mostrando alguma experiência política. Mas imagine-se que ninguém no momento adequado “se sente” do incómodo perante aquilo que considera uma asneira grosseira da condução política. Quem é que depois, perante um fracasso, tem autoridade para se apresentar como alternativa? Chama-se o especialista de marketing para criar uma alternativa mais de acordo com as novas preferências do eleitorado, talvez…

Os cinzentos políticos mais habituais surgem na imprensa sob a figura da fonte anónima. Em público, predominam as declarações de endeusamento ou diabolização total do líder. Tudo se exacerba quando se quer concordar ou discordar.

Fosse a discussão um hábito e seria diferente. Acho aliás que há demasiada gente a achar “discussãoâ€? uma palavra feia, demasiado belicista. Essa é parte do problema.
Restam-nos os Carrilhos, os Alegres e os Soares para alimentar algumas divergências. Que são primas donas, pois então. Resumam-se a comic relief e os danos estão controlados, a bem da imagem de união do partido, não vão dar munições ao “inimigoâ€?. Segue-se depois a dança descabida da traulitada nas jotas, nas distritais, porque ninguém sabe discutir (estou a simplificar mas não fujo muito, pois não?). Porque discutir é afrontar violentamente e com maus fígados, porque debater é para inglês ver. Porque não podemos ser ingénuos, porque o mundo é cão…Pobres de nós. Discutir é ofender.
Talvez sejam primas donas e o resto que recalca o que é? Militantes exemplares?

Não é tarefa fácil liderar, mas um líder de um partido não vale nada se não tentar ser mais do que isso todos os dias. É precisamente este raciocínio que predomina nos partidos que me tem mantido de fora: há uma esfera demasiado vasta para aquilo que se chama solidariedade partidária. E uma reacção demasiado ligeira para assassinar o camarada mais a jeito. Honremos o cliché: duas faces da mesma moeda.

Olha para o parlamento Rui… Se chegarmos ao parlamento então é indescritível o que por lá se passa. Como é que em partidos tão vastos ideologicamente como o PSD e o PS há tamanha comunhão de opiniões entre os eleitos deputados ao longo de centenas ou milhares de votações numa legislatura? É inacreditável que todos os deputados eleitos partilhem conscientemente de uma comunhão absoluta (ou quase) em torno das moções globais, parcelares e do programa eleitoral aprovado em congresso partidário.
A prática parlamentar apresenta-nos a divergência intra-partidária como um resíduo, uma absoluta excepção e oferece-nos como aberrações o caso limiano.

A ideia de que há gente no PS mais próxima de alguns militantes e parlamentares do PSD do que de outros camaradas do seu próprio partido é um mito descabido de sentido? Encontramos nos partidos e na sua lógica de funcionamento uma necessidade de solidariedade tão vasta que dá azo a todo o tipo de cinismos e traficâncias e, claro, ao descrédito dos que se apresentam dotados de inteligência. A lógica do teórico máximo denominador comum formador de grandes partidos substitui-se pela do mínimo denominador comum na acção efectiva possível (onde é que eu já vi isto a funcionar?)

Talvez um dia até me faça de convidado e haja alguém que me aceite, mas por este andar fá-lo-á/fá-lo-ei mais pelo gozo de me ver fazer de bo(m)bo da festa. O que até pode ter a sua piada…

Como diz por aí um spin doctor da blogoesfera em resposta a um seu amigo do Acidental:
“Eu acho que a política não é como o futebol e os partidos não são o nosso clube. A meu ver, o reconhecimento público dos problemas deve ser o ponto de partida para a sua superação e tu pareces pensar que se devem negar os problemas até ao limite.”.

Nem a crise política deveria justificar a simplificação de Ferro, nem o silêncio dos que andam à sua volta na cupula interior do partido, mas reconheço que ainda é pedir demasiado. Com tempo a coisa vai…
Abraços e agora vamos à bola.

(Será que com este discurso conseguiria cumprir com os deveres estatutários?)

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