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A Questão Maiúscula III/III

05.05.2004 por Rui Cerdeira Branco Categoria Religião

(I/III)
(II/III)

III/III
Há quinze dias chega-me a casa uma católica praticante com uma outra frase que me levou a esta que acabei de citar. [Mas se não acreditas em Deus como podes viver?] “Sabes que hoje o padre disse que devíamos admirar os que não crêem?â€?
“Disse que há entre eles quem respeite o próximo, quem pratique o bem, quem sirva de exemplo sem qualquer esperança de recompensa, sem qualquer perspectiva mística, sem ver um além.â€?
Quis o padre com isto embaraçar o rebanho, espicaça-lo à superação de acordo com a respectiva cartilha… A perspectiva de me identificar minimamente com aquele que o padre apontou na rua dos paradigmas teve a sua piada.
Bem haja a este padre! Que se faça esta luz – eis uma expressão com muita carga religiosa – entre todos os que crêem quando virem ali ao lado o quase ofensivo indivíduo que sem orgulho e sem temor diz que não acredita em maiúsculas.

Texto completo:

I/III
Não tenho clube religioso. Tenho educação cristã sim senhor, tenho curiosidade pela religiosidade dos outros e num sentido muito amplo que podemos dar à palavra até me podem atribuir religiosidade. Também não sou militante contra quem tem fé. A única militância que pratico é a do meu direito a viver em paz com os outros, pensando e “acreditado” no que bem entendo em termos de religiosidade. Já muito antes de Saramago – desculpa lá pá – tinha encontrado algum conforto e pacificação no entendimento da fé dos outros: “se tu acreditas, Ele existe”, só e apenas assim e isso basta-me, tal como bastaria se ninguém acreditasse.
Com este princípio nunca tive chatices, nunca senti que alguém ficasse ofendido e nunca ninguém me aborreceu…ou quase nunca. Também nunca me demiti de fazer respeitar o direito dos outros, o mesmo que pedia para mim. À parte umas bem intencionadas e inócuas tentativas de conversão posso dizer que nasci em tempos agradáveis para ser não crente.
Mas…
O mas vem da corporação, da instituição em mancha de óleo, do aguçar dos discursos, dos grupos de pressão, dos fundamentalismos, dos que não consideram meu direito arrogar-me a pensar cá para comigo que Deus não existe e levar a minha vida assim pensando e agindo de acordo. Estar só, não crente, é quase como ser mulato no meio de brancos muito brancos e de pretos muito pretos.
Prezo muito alguns dos mandamentos que julgo quase universais, ecuménicos, e com isso vou construindo a minhas pontes com quem quiser ajudar. Mas, como disse, tenho tido sorte com os tempos e com o local onde vivo. Há por este planeta quem abomine mais o que simplesmente não crê do que o “infielâ€?. O primeiro é-lhe demasiado incompreensível, demasiado estranho. Gregos e Troianos facilmente se juntam para espezinhar o que se quer afastar da sua contenda.

II/III
Uma noite, à porta de uma discoteca, dois árabes muito muçulmanos (do Barahein), empunhando as respectivas Coca-Colas, discutiam afavelmente as diferenças dos respectivos mundos com um punhado de estrangeiros de diversas nacionalidades, portadores de cerveja, nos quais me incluía. Um estranho e feliz grupo que a globalização quis juntar em Espanha sob o patrocínio de uma multinacional americana.
A dado momento comentavam-se os regimes políticos. Os árabes defenderam as vantagens da monarquia ao que foram secundados pelos britânicos e espanhóis de serviço e contraditados pelo portuga e pelos italianos. Os monárquicos alegraram-se quando revelaram a transversalidade da importância histórica da monarquia.
Passou-se então para a religião e no pequeno punhado de gente à conversa havia quase de tudo. Faltavam um judeu e um budista para termos um digno lote de embaixadores. Mas havia, muçulmanos (sinceramente não sei de que orientação, é ir ver à enciclopédia na entrada Baharein), havia hindus, havia cristãos para todos os gostos e havia eu.
Naquele momento em que revelei que não acreditava em Deus recaíram sobre mim pelo menos dois tipos de veredictos. Por um lado o de alguns ocidentais de pouca fé que condescendiam na minha opção (talvez por se sentirem perto dela). Por outro lado, a dos crentes fervorosos: um protestante (já não me recordo de que país nem de que igreja) e os muçulmanos. Foi contudo a frase de um dos amigos do Barahein que melhor sintetizou os olhares que me lançava este último grupo.
Mas se não acreditas em Deus como podes viver?
O peso do céu estrelado e do quarto crescente aumentou subitamente e a conversa terminou por ali assim como as bebidas.

III/III
Há quinze dias chega-me a casa uma católica praticante com uma outra frase que me levou a esta que acabei de citar. [Mas se não acreditas em Deus como podes viver?] “Sabes que hoje o padre disse que devíamos admirar os que não crêem?â€?
“Disse que há entre eles quem respeite o próximo, quem pratique o bem, quem sirva de exemplo sem qualquer esperança de recompensa, sem qualquer perspectiva mística, sem ver um além.â€?
Quis o padre com isto embaraçar o rebanho, espicaça-lo à superação de acordo com a respectiva cartilha… A perspectiva de me identificar minimamente com aquele que o padre apontou na rua dos paradigmas teve a sua piada.
Bem haja a este padre! Que se faça esta luz – eis uma expressão com muita carga religiosa – entre todos os que crêem quando virem ali ao lado o quase ofensivo indivíduo que sem orgulho e sem temor diz que não acredita em maiúsculas.

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4 Responses to “ A Questão Maiúscula III/III ”

  1. 1
    #1 GIN Says:
    May 5th, 2004 at 4:12 pm

    Ao ler este teu post lembrei-me de um texto que li há tempos e que achei muito interessante. Fui à procura e aqui está. Espero que gostes
    abraço

    GIN

    http://www.ethos.org.br/docs/conceitos_praticas/publicacoes/reflexao/reflexao_06.pdf

  2. 2
    #2 timshel Says:
    May 5th, 2004 at 6:37 pm

    Desculpa fazer um copy and paste de um post que fiz há uns tempos atrás mas gostaria de saber a tua opinião sobre ele:

    “A obrigação moral ou assenta em axiomas ou então é um mero produto de relações de forças conjunturais localizadas no tempo e no espaço. Nesta última perspectiva, ela varia ao sabor das circunstâncias.

    Sem uma referência a um direito de origem divina não é possível nenhuma fundamentação teórica válida de uma obrigação moral absoluta. Poder-se-á dizer que as regras da convivência entre os homens produzem essa obrigação moral sem necessidade de recorrer à sua fundamentação divina.

    Mas essa afirmação impede qualquer julgamento de validade sobre uma qualquer obrigação moral. Na medida em que as circunstâncias sociais se alterem, a tortura, o assassínio, ou todo e qualquer comportamento criminoso podem deixar de o ser. O direito sem esta fundamentação divina é apenas o produto de uma relação de forças, a lei do mais forte.

    Mesmo que pensemos que o direito não deve ser isto, a fundamentação de tal posição (moral, aliás) nunca poderá sair da esfera do humano e do relativo às condições históricas que produzem o direito.

    Nunca será possível condenar o Mal. Ele será sempre relativo. Se agora o Mal é Mal tal não significa que noutras condições históricas o que é agora Mal não possa ser Bem.

    Não consigo encontrar uma fonte de validade outra que não a divina para poder dizer que sempre o assassínio e a tortura são crimes. Independentemente de todas e quaisquer circunstâncias históricas.

    E só assim posso dizer a alguém que cometeu um destes crimes que o que ela fez foi errado. Senão apenas lhe posso dizer que será condenada apenas porque não é (tem) poder. Se tivesse poder ou se a “consciência moral colectiva” ( e já vimos isso no nazismo) lhe desse esse poder, o assassínio ou a tortura já eram coisas boas.”

    Óbviamente que as tuas opções são apenas tuas e a experiência me diz que existem muitos ateus ou agnósticos que são melhores cristãos do que certos cristãos formais.

    O problema que aqui te coloco é puramente intelectual, isto é, puramente lógico.

  3. 3
    #3 Rui MCB Says:
    May 5th, 2004 at 9:45 pm

    Gin: Obrigado pela dica.
    Timshel: vou comentar o teu texto com mais tempo e numa entrada específica no blog.

  4. 4
    #4 Lutz Says:
    May 6th, 2004 at 12:51 am

    Timshel, o problema reside, no meu entender, na questão se, quando escreves o post/comment, estás fora do contexto social (com os seus códigos socialmente determinados) ou dentro. Visto de fora, parece-me evidente, que cada cultura/sociedade tem os seus códigos socialmente gerados e determinados, mas que parecem absolutos aos que estão dentro.
    (Onde essa contradição deixa de ser oculta, é na forma como tratamos, pelo menos nas democracias, as leis normais: concordamos ou não com eles, lutamos eventualmente pela sua alteração, mas enquanto valem, merecem-nos respeito.)

    Acho que nós contemporáneos da aldeia global estamos, talvez pela primeira vez, na condição de olhar comparativamente aos códigos de várias sociedades, inclusive a nossa, e assim de estar ao mesmo tempo fora e dentro (com todos os problemas de auto-referencialidade, que este facto acarreta).

    O resultado é um paradoxo: Posso observar a moral como variavel e um produto da sociedade, mas não me é possível viver segundo uma moral relativa.
    Essa incapacidade exige de mim o estabelecimento ou a assunção dum axioma.
    Só que a assunção do axioma não elimina a minha observação anterior: a da sua arbitrariedade.
    E daí parece-me resultar a seguinte exigência ética: Devo integrar na minha moral as consequências tiradas desta observação! Cuja príncipal é: tolerância.

    Não tenho grandes conhecimentos da lógica nem da matemática, mas lembro-me que um axioma é tanto melhor quanto mais genérico é. Por isso empenho-me, reconhecendo a minha necessidade do axioma, desse núcleo religioso, na permanente desconstrução dos edifícios que nele tendo erigir.

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