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Submarinos

Há 91 anos que a marinha portuguesa tem algum tipo de força submarina ao seu serviço. Até há pouco tempo tínhamos três unidades da classe Albacora. Tradicionalmente um estava sempre operacional, o segundo poderia estar operacional ou então estava em pequenas reparações com a respectiva guarnição em prontidão e o terceiro provavelmente estava em revisão geral, em doca seca, intervenção que podia demorar mais de um ano. Olhando para o calendário operacional era muito raro termos três submarinos a navegar. Para se assegurar que existia sempre pelo menos um operacional parece que tínhamos de manter uma flotilha de três…

Para que eram usados os submarinos da classe Albacora? Não sou especialista mas entre a minha memória, o que me dizem, e o que leio (por exemplo neste site ) eram navios utilizados no âmbito de algumas, raras, operações da NATO (a mesma organização que agora se recusa a avalizar a prioridade submarina do governo português).
Recentemente os submarinos portugueses estiveram presentes na operação de cerco naval durante o conflito jugoslavo, tendo participado, se não estou em erro, na intervenção da Armada portuguesa na operação de resgate de cidadãos portugueses durante o conflito na Guiné-Bissau em 1998 juntamente com uma fragata. Recolhi também a indicação de que em Janeiro último, pela primeira vez na sua história, um submarino português participou numa intervenção real de combate ao narcotráfico servindo de transporte a forças de intervenção e fonte de informações.

Há muito tempo que deveríamos ter substituído os actuais submarinos, tal como ainda há mais tempo deveríamos ter unidades de patrulhamento oceânico desenhadas e apetrechadas para desempenharem funções no Atlântico, e não ao largo de Angola/Moçambique ou mesmo no interior dos rios africanos. Há muitos anos as actuais Fragatas e Corvetas (excepção feita às três da Classe Meko) deveriam ter sido substituídas em vez de verem sucessivamente aumentado o seu período de vida operacional com as mais diversas remodelações e actualizações. Como carros velhos, têm sido fonte de despesas, difíceis de reparar e manter (quem tem peças para relíquias de museu?). Só com geniais intervenções do melhor desenrascanço nacional vão passando por navios minimamente dignos desse nome. Com o tempo, o sentido da sua existência foi-se perdendo à medida que passavam mais e mais períodos encostadas no Alfeite por falta de peças ou de dinheiro para o carburante. Durante muitos anos, a base militar do Alfeite se assemelhou a um depósito de sucata sendo difícil perceber se entre as dezenas de navios ancorados algum navegava sem auxílio do rebocador. Dito isto sabemos também que agora, neste contexto muito concreto, o Estado não tem dinheiro. É mais importante do que nunca estabelecer prioridades e maximizar as vantagens do pouco investimento que se fará. Justificar a manutenção da força submarina com o combate ao tráfico de droga, armas e pessoas é absolutamente anedótico. O que não se faria no país com 770 milhões de euros se fossem gastos a melhorar as condições operacionais da PJ, da PSP, e mesmo da Marinha (acelerando as encomendas dos Navios de Patrulhamento Oceânico por exemplo) para melhorar drasticamente o combate ao tráfico de droga e afins… É só perceber as condições e os meios ao dispor destas forças para ter uma ideia da desproporção do combate.

Cabe ao governante decidir mas não pode recolher louros de duas frentes quando esta opção claramente não é a mais eficiente para dar luta a ameaças em tempo de paz.

Só uma última nota: caro Paulo Pinto Mascarenhas as qualidades de Paulo Portas como ministro da defesa resumem-se exclusivamente a uma coisa. Disponibilidade orçamental para ir fazendo o que os seus antecessores do PS e do PSD nunca conseguiram fazer devido a opção governativa de não atentar às necessidades das forças armadas. Quase tudo o que Paulo Portas fez ou anuncia vir a fazer estava decidido há muito mas encalhado nas restrições orçamentais. Novidades? Talvez as reformas para os ex-combatentes. Apenas e só.

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