Ana Gomes critica o silenciamento a que os media votam muita da opinião produzida pelos partidos, particularmente pelo PS, e ainda mais especificamente, no que diz respeito à política externa.
Durante muitos anos a crítica centrou-se essencialmente num factor de escala: o partido no poder tinha (tem) sempre maior acesso aos media do que quem está na oposição. Em certa medida há alguma inevitabilidade nesta ordem de coisas. Julgo agora entrever – não é só Ana Gomes que se queixa – uma outra dimensão para o problema, do factor de escala passou-se para o absoluto silenciamento em relação a muitas iniciativas. A queixa que era um quase exclusivo do PCP surge agora na boca de líderes do PS.
Enquanto receptor de informação estou relativamente impotente para avaliar a situação. Até que ponto a imobilidade política que antecipo resulta de uma falha ou de uma barreira comunicacional? Vou tentar passar ao largo do caso “Casa Pia” ou do exemplo extremo que temos por estes dias em Itália para não colorir demasiado o texto. Assumamos que se tratam de aspectos conjunturais e que há uma outra questão mais estrutural a abordar.

É muito fácil confundir esta crítica de Ana Gomes com a “sede de exposição”, com a vontade de aparecer que qualquer político tem e deverá ter. É bem mais difícil avaliar se esta queixa vinda do PS tem razão de ser. E esse é o verdadeiro problema. Como podemos nós cidadão mais ou menos atentos avaliar esta situação quando o que é posto em causa é precisamente o intermediário da informação; o jornalista e quem controla a empresa para quem ele trabalha?

Voltamos ao mesmo (de alguns dos mais recentes textos aqui no Adufe): quanto mais ágeis, simples e apelativas forem as formas de contacto directo entre partidos e eleitores, mais fácil será o entendimento das diferenças entre as diversas propostas, mais directa será a responsabilização dos políticos e dos cidadãos eleitores e maior será o estímulo para que a “produçãoâ€? comunicacional do trabalho dos jornalistas seja espicaçado e os excessivos enviesamentos editoriais condicionados. Naturalmente, o estímulo será tanto maior quanto maior for o interesse real e a formação política de quem consome notícias sobre política. Hoje, admito que a minoria que é politicamente consciente contribui numa proporção demasiado reduzida para condicionar a “produção” informativa. Em Portugal, não há assumidamente nenhum órgão de comunicação social predominante com uma política editorial claramente alinhada com uma corrente política mas também não reconheço com facilidade o seguimento do que julgo deveria ser seguido quando tal preceito não existe: a pragmatismo do distanciamento interessado, onde o interesse se centra numa aproximação à verdade alicerçada na honestidade, na clareza, no contraditório e no esclarecimento do público. Há fortes margem para duvidar, para levar a sério a crítica de Ana Gomes. Numa sociedade orientado para o serviço, para o consumo, chegar a esta conclusão significa termos trabalho; termos, nós, os que se interessem, que desejem exercer a democracia quotidianamente.

Os blogues, ainda que muito limitados nas suas audiências, promovem esse grande feito que é Ana Gomes e outros que se sintam limitados, poderem dizer de sua justiça, directamente àqueles para quem escrevem e por quem – acreditemos – realizam o seu serviço público. Para que o político se vincule com uma política é primeiro preciso que a tenha e depois é preciso que lha imputem. É aí que reside o desafio de que, num primeiro passo, a informação esteja acessível e, num segundo momento, que haja quem a queira apreender. Haverá disrupção à vista mantendo o rumo que levam as opções editoriais dos media?

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