Se sempre que quiserem bater em mim o fizerem como fez a Sarah da Espuma dos Dias eu agradeço.
Para que melhor se perceba o que a Sarah publicou na Espuma (e porque acho que fez muito bem em traze-lo a público) vou aqui deixar (em anexo) o mail que lhe mandei ontem. Já agora chamo à discussão o Nuno Peralta e o Joel, se quiserem (entre todos os outros!).
A Sarah diz na Espuma que se recorda de ser “vagamente homófoba, confusa, agarrada aos papéis“. Seguramente eu estarei ainda a fazer o caminho. Não sei se chegarei onde está hoje a Sarah mas sei já que não há nada mais esclarecedor do que fazer o esforço de defender uma razão. Pela sua falência ou pela sua força chegarei a um lugar melhor. A propósito, sobre outros temas o Adufe tem andado cheio de certezas, vou continuar a expor por aqui muitas das minhas dúvidas. Muito provavelmente voltarei a este tema, para já fica só o mail e o debate da Sarah.

O Mail:

Olá.
A propósito do texto do Joel Neto que comentei no Adufe sobre “adopção de crianças por homossexuais”. Aproveito para dizer que conheço tanto o Joel como conheço a Sarah.

Ó Sarah… Não tenho (que eu saiba…) amigos homosexuais, nem moços, nem moças (pelo menos assumidos). É um facto que não estimo, nem lamento. Até agora é assim. Desconfio, é cá uma fezada (brinco!) que são gente como eu. Que sentem o mesmo, que são capazes do mesmo, para o melhor e para o pior.
Acho que sou um rapazito minimamente esclarecido mas com enooormes áreas de ignorância. A ignorância muitas vezes é incómoda, leva-nos a querer tapar o buraco com uma qualquer ideologia ou teoria esfarrapada que nos deixe dormir na paz.
Ora com labor, ora com preguiça, vou tentando evitar essas soluções fáceis, vou tentando manter os sentidos em alerta, procurando reduzir o tal buraco.
Tal como às vezes me surpreendo com a ignorância dos outros que de vez em quando me bebem as palavras, numa ou noutra matéria em que estou mais informado, também eu lhes conheço o lugar e passo pela mesma experiência, ouvindo e conhecendo outras gentes muito mais sábias do que eu.
Eu tenho a certeza absoluta que há casais do mesmo sexo capazes de amar profundamente e mil vezes melhor um filho que muitos outros casais hetero. E tenho ao mesmo tempo dificuldade em, numa situação limite não deixar de discriminar. Explicando. Dois casais “concorrem” a uma criança para adopção, um hetero e outro homo. Ambos se qualificam brilhantemente e terminam a avaliação empatados. A constituição do casal deve determinar nesse caso o desempate ou deitamos moeda ao ar? Imagino que a Sarah nem queira responder (a manter o estado de espírito dos “Serviços Mínimos”) mas eu, num primeiro impulso, e perante uma adopção, desfavoreceria o casal homo simpatizando com a lógica de “excepção” do Joel, uma espécie de último tributo à biologia da espécie. Dito isto fiquei a olhar para o barrete que a Sarah ofereceu no texto “Serviços Mínimos” e comecei a enfiá-lo. Chame-lhe atavismo, condicionamento cultural, medrices, ou pior, whatever, mas o que é certo é que esse foi o meu primeiro impulso.

Reflectindo mais um pouco, como tentei fazer publicamente no Adufe, expus sumariamente algumas contradições que nos assaltam quando tentamos fazer um esforço de coerência com outras posições relativas a outras questões melindrosas. E muitas mais, além das que descrevi, me passaram pela cabeça!
O caminho mais razoável parece então indicar-me quão frágil é (para não lhe chamar outra coisa) o argumento da excepção, mesmo em situações “limite”. No entanto, o que quero dizer é que para ter dúvidas não é necessariamente preciso ser um “português de merdaâ€? (é claro que não enfiei o barrete). Acho que ninguém nasce merecedor desse título, é algo que tem de ser conquistado e acredito que há muitos concidadãos que não o merecem, mesmo entre os que como eu impulsivamente corram para um preto e branco tradicional mais ou menos elaborado (no meu caso inventei uma situação “limite”).
É preciso que haja esclarecimento, que haja confronto, é preciso que tenhamos energia para ir vivendo sempre garantindo os serviços mínimos. É difícil podermos renunciar a isso… Nada de desesperanças!

Atrevo-me a mandar um beijo.
Rui Branco
adufe.pt

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