A propósito do texto de Pacheco Pereira no Público.

Caro José Pacheco Pereira, ilustre intelectual e político português faço mais uma vez deste Adufe o meu jornal e permito-me endereçar-lhe umas palavras.
Citando-o:

É que Zapatero pode pensar que está a falar por Espanha, para a Europa ou para os EUA, que o ouvem com os códigos do relativismo político e da mudança democrática, mas há outros olhos a vê-lo e outros ouvidos a ouvi-lo: os da Al-Qaeda.
(…) Não percebe nada de terrorismo quem não percebe que não é a força que atrai as bombas, mas a fraqueza. Se houver esta tentativa socialista e a coligação PSD-CDS for capaz de ter a firmeza absoluta, sem tibiezas, que a situação exige – eu que sempre critiquei a fusão contranatura dos dois partidos -, farei campanha a seu favor todos os segundos que durar o debate eleitoral. Com o PSD, com o CDS, com os socialistas atlantistas, seja lá quem for. Isso é mil vezes mais importante que as vicissitudes da política interna. É guerra, é guerra.
” texto catrapiscado daqui.

Os fortes e os fracos… Olho para a firmeza, para a força do actual governo de Israel e não vejo o terrorismo fraquejar. Não estará o nosso colega a ser demasiado maniqueísta? Há muitas formas de mostrar firmeza assim como há muitas formas de fazer asneiras nesta matéria. Não acredito ter interpretado assim tão mal Zapatero. Leio o seu texto parece-me estar a ouvir uma crítica a uma esquerda toda ela Louçãnizada. Será que também junto a si fez escola a ideia de que o PSOE é um “radical left-wing party“.

Proibir a continuação da critica à intervenção no Iraque para não parecer aos terroristas que ganharam; é esta a tese que propõe. Oponho-me defendendo que devemos continuar a expressar livremente o que sentimos e a agir de acordo com isso e com a realidade política em presença. Digo-o porque em nenhum momento me surgiu a dúvida de que Zapatero (Ferro Rodrigues, Shroeder ou mesmo Chirac) perceberam exactamente o que estava em causa. Neste momento, a intervenção no Iraque é irreversível (às vezes confesso que, pelo vigor na crítica que leio em alguns locais quase acredito que haja quem ainda não se tenha apercebido do facto consumado). Mas não é por ser irreversível, nem por ser hoje absolutamente irresponsável abandonar o Iraque à trouxa mocha – apesar da ser asneira essencialmente americana – que estamos impedidos de fazer dela um caso de estudo sujeito a respectiva crítica e ensinamento. Usemos o nosso mais velho método de aprendizagem civilizado. Bem sei que sempre defendeu a intervenção e eu não. Hoje digo-lhe que não podemos branquear o que se fez no Iraque sob nenhum pretexto táctico (dirá que é estratégico, imagino). Temos de ter bem presente que não se chegou ali a nenhuma raiz do terrorismo como afirma. Esse é que é o problema do Iraque, sempre foi. Contrariamente ao que afirma nestas linhas:

“Só que, desta vez, os americanos tinham uma parada demasiado alta e arriscada para se defenderem e tentavam cortar o mal pela raiz e os europeus não estavam dispostos a acompanhá-los nessa parada.â€?

Olhando exclusivamente para o Iraque, “falhámosâ€? rotundamente o objectivo (já ignoro a discussão da existência das ADM veja bem): melhorar o saldo entre os terroristas que nascem e os que perecem ou são manietados. Naquele local concreto, resta-nos limitar avarias. Fazendo hoje o balanço, perdemos uma batalha em proveito dos terroristas que agora por lá campeiam com uma liberdade e motivação inesperadas há bem pouco tempo.

Se o ocidente quer dar um exemplo de força, de união, de determinação no combate ao terrorismo, empenhe-se com todas as energias na resolução do conflito israelo-árabe. Não será a última batalha desta guerra mas poderá muito bem ser a mãe de todas as batalhas. Ou será que isso hoje poderá ser visto como o definitivo sinal de fraqueza que poderemos dar aos sempre atentos terroristas, caro Pacheco Pereira?

Cordialmente,
Rui Branco

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