Imaginem que tudo o que veio no Público hoje (suplemento de Economia páginas 2 e 3) é verdade, qual é a novidade? Afinal é comum ouvir criticar o último governo socialista de despesismo e é também frequente dirigentes socialistas afirmarem que a factura política dos erros passados foi já paga em Abril de 2002. Dizem por outro lado, como já disseram outros noutro ciclo político, que só assim, com a penitência das urnas e os subsequentes novos começos é que é possível viver em democracia.
Só em parte posso concordar com esta lógica; o raciocínio é demasiado simplista, na mesma linha de simplismo com que ainda hoje se imputam culpas de quase tudo o que está mal a um governo que deixou de governar efectivamente há mais de dois anos.
Os factos apurados pela auditoria encomendada pelo Ministro Felix ao seu ministério não produzem críticas genéricas ao governo socialista. Referem-se a situações muito particulares com responsáveis igualmente muito específicos. Alguns dos quais foram aceites e eleitos como líderes pelos seus pares e seguem carreira como candidatos naturais a liderar o próximo governo, havendo alternância.
Que eu saiba nunca ninguém do partido socialista fez o mea culpa dessas situações concretas nem apresentou a sua interpretação do “como deveria ter sido feitoâ€? para que se perceba qual o seu compromisso com o que fará. Porque houve erro? Porque se gastou tanto e tantas vezes com tão poucos resultados?
Esta lacuna é tão mais grave quanto são exactamente os responsáveis do passado a perfilarem-se para dirigir o partido no futuro.
A crítica que aqui se faz não visa contudo especificamente invectivar apenas Ferro Rodrigues, Paulo Pedroso ou Vieira da Silva, a crítica abrange todo o Partido que os elegeu e mantém, sem que em algum momento se tenham dado provas de aprendizagem com os erros do passado. Ainda não houve um compromisso com novos métodos para levar por diante políticas de sempre.
Volvidos quase dois anos das últimas eleições, o que começa a surgir é o tradicional afiar de facas, ante-câmara do contar espingardas, num exercício totalmente desprovido de conteúdo político relevante para quem quer optar pelo seu representante no parlamento.

Tomando exemplos do passado, a breve trecho chegaremos a um estado de guerrilha onde aquele que apareça com as perguntas que aqui deixo e com outras mais inteligentes será confundido com o inimigo, a primeira vítima do disparar antes de perguntar que se instalará. No final, surgirá um novo líder, ou o mesmo, ao qual foi dada nova carta branca que, na melhor das hipóteses, alguém intimamente lamentará quando já for tarde de mais.

Jorge Coelho despeja banalidades na 2: e no Público saltando para a arena e promovendo um mar de análises da melhor alcovitice e astrologia política que podemos imaginar neste Portugal contemporâneo.
Por outro lado, a notícia de que o sector público é ineficiente em geral (também disponível no suplemento de Economia do Público de hoje) parece bem mais importante do que escalpelizar a que destaquei, onde temos alguns dados para perceber o problema em particular.
O desafio que lanço não é nada modesto ou de fácil execução mas surge-me como o único a enfrentar se queremos dispor de uma solução melhor. Um desafio que podendo e devendo começar dentro do PS deve também ser percebido como destinado, justificado e apenas realizado quando produzir um envolvimento no exterior do Partido, a tempo de o eleitor poder ainda ponderar qual a melhor escolha.

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