Diz-me o Nuno P nos comentários ao texto Ou há moralidade ou comem todos;

“Rui,
Pareces-me surpreendido com a típica chico-espertice portuguesa…
Eu pelo menos no local onde trabalho tenho uma táctica diferente, compartilhada por todo o prédio: o segurança tem como função monitorizar a acção dos “verdes”: sempre que estes aparecem, toca de avisar os escritórios. É ver os elevadores apinhados e o pessoal todo a pôr os 30 cêntimos da praxe…”

Respondo-te assim Nuno, ai de mim e de todos nós quando nos deixarmos de “surpreender” com o que está mal. Nesse momento deixará de haver qualquer princípio moral pois nada se distingue. Nem sequer terás consciência de que o que fazes é incorrecto e muito menos reflectirás do porquê da existência dos parquímetros. A meu ver uma excelente medida (ainda que insuficiente) de desincentivo à utilização do transporte privado.
Pessoalmente indigno-me mais com quem usa o automóvel para viagens que estão longe de ser essenciais e inevitáveis, por exemplo, rumo ao seu posto de trabalho, do que com quem polui o ambiente com uns cigarritos aqui e ali. Veja-se a desproporção da indignação e mobilização social num caso e noutro. No meu caso tal estado de coisas só me dá ainda mais vontade para denunciar a burrice colectiva.

Antecipo-me pedindo-te que me poupes ao discurso de quão ruins são os transportes públicos. Para já é uma generalização abusiva. Conheço inúmeros exemplos de trabalhadores pendulares que continuam a trazer carro mesmo sendo servidos por excelentes transportes públicos. Nesta matéria não tenho dúvidas de que precisamos de um paizinho zangando, cada vez mais zangado a impor-nos condicionamentos à nossa liberdade de usar o popó.
Se concordasses de facto com o princípio que ajudas a destruir a qualidade de vida de todos com a viagem pendular casa-trabalho – ou seja, que ainda te forçasses ao esforço de ser coerente não abdicando da tua capacidade de te surpreenderes – perceberias que as tuas energias seriam muito melhor canalizadas a exigir melhores transportes públicos do que a contraditares quem faz a sua apologia, ou mesmo, a correres para o elevador e a contribuíres com moedinhas para o prestável porteiro.
Tu e tantos outros, funcionam nessa base da chico-espertice, eu confesso que vou tentando reduzir diariamente os meus níveis de hipocrisia. E também nesse sentido, cada vez invejo mais o modelo londrino e, quem sabe, a proibição a curto/médio prazo da circulação de automóveis particulares no interior da cidade ou, pelo menos em algumas zonas da cidade. Há um direito à destruição da qualidade de vida de todos que não deveríamos ter.
O metro funciona bem e ainda tem capacidade para melhorar a oferta com mais material circulante. Em menos de dois anos concluirá o apertar da malha ligando linha vermelha, verde, amarela e azul no eixo Alameda – Saldanha-São Sebastião. A Carris prepara-se para renovar substancialmente uma frota antiga e poluente. A ferrovia corrige finalmente os erros do passado envolvendo a cidade com aquilo que já se aproxima de uma rede integrada…
Mais do que chatear-me contigo, mas sem abdicar de te apontar o meu feio dedo, prefiro terminar esta prosa com uma outra pergunta:

Quantos quilómetros de via bus poderia a Câmara de Lisboa construir com a verba que está a gastar para construir um túnel das Amoreiras ao Marques cujo o único objectivo é aumentar a fluidez e com isso motivar a circulação automóvel?

Terás autoridade para fazer este tipo de perguntas? Pelo que dizes fazer parece-me evidente que é para eleitores como tu que Pedro Santana Lopes dá largas à sua megalomania.

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