São vários os blogues (os seus autores) em sintonia. Falo de sintonias difusas, não organizadas e, particularmente, penso em sintonias raras vezes sublinhadas por não girarem em torno da política, de alguma causa ou de algum choque.

Lost in Translation (um filme) de que já aqui falei, traz-nos uma dessas sintonias que ameaça atingir o ponto de popularidade que levará a ser “bem” gostar do filme. Esta é uma consequência caricata, mas há muito inscritas nos genes, que atinge todos os fenómenos de sedução que assumam um determinado patamar de popularidade.

A partir de certo momento o importante parecer ser o demonstrar de que se gosta e não o satisfazer a curiosidade do porque se gosta ou do porque gostam. Contentamo-nos com uma simulação da sensação de pertença e não com a coisa a sério. Em última análise a ilusão da maravilha descoberta poderá fazer esquecer a dita.
Estas reacções às sintonias são sempre um pouco perturbantes, não as encontro apenas em relação a filmes e não trazem sempre a garantia de uma elite iniciadora que sabe prezar a honestidade e que apenas promove o que preza.
Em certas circunstâncias, somos terrivelmente enganados pelos que colocámos em pedestais oferecendo-lhes a nossa muito vulnerável credulidade.
Falo num “nós” e penso nos portugueses. Se fizer algum sentido falarmos dos portugueses diria que um dos nossos maiores e mais recalcados defeitos é o da credulidade. Acreditamos demasiado depressa e desacreditamos com igual facilidade. E entre estes extremos tendemos a dizer mal da vida, do triste fado.
Falta-nos demasiadas vezes cultivar o respeito por nós próprios, olhar para dentro, para um fado mais antigo e universal. Quanto mais procuramos o que “está mal”, o que resolver e como emendar, vasculhando exemplos no estrangeiro, em algum suposto bom aluno, mais deviamos ir perdendo as dúvidas que o nosso principal obstáculo está dentro de nós. Ora aqui está um discurso também já demasiado banalizado!

Lost in Translation
Talvez até venha a surgir o típico movimento oposto, dos que se demarcam para assim também estarem na onda, talvez alguém venha aqui com brios elitistas degradar a qualidade do “produto” em virtude da banalização da crítica laudatória. Talvez tenhamos mil pretextos para esquecer o essencial.
Teremos seguramente oportunidade de ganhar com o exercício de fechar os olhos, ignorar a algazarra eufórica da partilha superficial e (re)ver o filme. Olhar para ele, perceber porque na sua simplicidade nos toca tão intimamente. Uma pequena ajuda para recuperarmos o sentido da nossa humanidade.
Porque nada se perde.

A imagem foi descoberta n’A Praia. Um blogue onde esta semana encontro por lá outras sintonias.

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